Para não esquecer...

A FALTA DE ESTORVO DO CHOQUE TECNOLÓGICO

A experiência não era inédita, logo pioneira, em Portugal!

E também um jornal nacional quis testar a (in)felicidade de quem passa “uma semana noutro mundo”. Se bem o pensaram, melhor o fizeram com a aquiescência de uma jornalista
(tinha de ser uma mulher! Ui, cavalheiros! que heresia acabei de escrever! E ainda por cima com pontos de exclamação).
O caso foi que (re)tiraram à jornalista seleccionada como cobaia o telemóvel, o acesso à Internet, ficando, assim, “desligada”. E acabou por confessar que: se sentiu a viver num mundo mais pequeno. Quando a “desligaram” respirou fundo, diz ela e pensou: morri. Mais adiante, e depois do relato minucioso das peripécias que experenciou
(verbo moderno, muito in),
admite: começo a achar graça a isto, a estar meio desligada do que se passa no mundo. A ninguém me telefonar. A páginas tantas e já baratinada, afirma: sem telemóvel, andar desesperada, à toa, a tentar encontrar a tal esplanada
(ponto de encontro com amigos, como se lê no texto),
faz-me desistir. Vou para casa. Talvez tenha sido uma boa decisão, digo eu.

Os conselhos do escritor e também jornalista norte-americano, Gay Talese, de quase 80 anos, que só utiliza o computador como se fosse uma máquina de escrever, parecem não aliviar o desespero. Ainda que a jornalista os transcreva: Afastem-se do vosso computador. Não obtenham as vossas informações através das novas tecnologias. Abaixo a preguiça do GOOGLE! Abaixo a preguiça dos telemóveis que permitem encontrar uma pessoa em qualquer lugar. Levantem o rabo dessas cadeiras. Vão aos sítios. Sejam curiosos.

Para, no final desabafar:

Não se pode ser um bom jornalista actualmente sem recorrer às novas tecnologias. Foi isso que aprendi esta semana. A actualidade do dia-a-dia escapou-me completamente. A leitura de jornais e revistas estrangeiras ficou reduzida ao mínimo. Passei os dias a pedir ajuda aos meus colegas para escrever notícias. Não haja ilusões. É impossível chegar a certas informações de outra maneira.

Tenho um sorriso estampado na cara. Recuperei a minha vida normal. Agora quero ficar sozinha. Na companhia dos meus gadgets e dos meus amigos e leitores no ciberespaço. Começo a apagar e-mails. Fico à espera que os telemóveis toquem outra vez. O meu som preferido. Que saudades.

Nota: a jornalista em questão é profissional há 19 anos. Diz ela que quando por essa altura era estagiária no jornal, não havia Internet em Portugal e ela não tinha telemóvel.

escrito por Gabriela Correia, Faro

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