Para não esquecer...

hoje é sábado 54. VELÓRIO DE INVERNO

Acabas de chegar. Está muito frio:
poucos amigos e alguns parentes
vão falando em surdina e entredentes
de quem já não existe – o teu tio

e tinha a vida presa por um fio
que se quebrou enfim. Tudo o que sentes,
para lá das conversas inocentes,
é a alma a gelar no arrepio

da infância a despedir-se enquanto chora
pessoas e lugares que cada hora
dentro de ti transforma em nevoeiro.

À saída descobres, absorto,
que também tu começas a estar morto
na fria madrugada de Fevereiro.
[Fernando Pinto do Amaral]

escrito por Carlos M. E. Lopes

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