Para não esquecer...

DO CONTRA [42] descanse deus em paz!

O "Do Contra" de hoje, que comecei de escrever, começava assim:

Como toda a gente sabe, Deus é reaccionário.
Deus também descansaDepois de escrever o primeiro período, abandonei o texto. Não porque tenha mudado de ideias
[um domingo destes, hei-de demonstrar que Deus é mesmo reaccionário. Se algum leitor o quiser fazer antes, sinta-se à vontade...],
mas porque hoje é dia de todos os santos e estamos ainda próximos da polémica de que Saramago se serviu para malhar em Deus -- e, portanto, acho que Lhe devemos permitir que termine o descanso do 7º dia, em paz.

escrito por ai.valhamedeus

3 comentário(s). Ler/reagir:

Zé de Vildemoinhos disse...

saamargo não malhou em Deus.

Vomitou uma série de disparates e alarvidades

o que é bem diferente

O idiota até está convencido que é o único ateu à face da Terra.

Muitos e bons ateus existtiram antes desse cretino e mais tarde muitos encontraram a fé

Pelos vistos queres seguir-lhe as pisadas.

Mas não te convenças que és o único esperto das Berças a descobrir a pólvora

Para que conste disse...

Testemunho directo, de quem se cruzou com Saramago.

SEM COMPLEXOS NEM PRECONCEITOS

Seguramente, foi em 1959 que assentei arraiais na Brasileira do Chiado, no grupo pontificado por Tomaz de Figueiredo, Jorge Barradas, Abel Manta e Almada-Negreiros, onde fui dar pela mão de artistas plásticos cujo vasto atelier passou a ser, também, meu poiso habitual. Meu e de muitas outras pessoas.
Em tardes de inverno, com a lareira acesa e tomando chá, por ali passava a dizer poemas Vasco Lima Couto e, a inundar o espaço com a sua voz inesquecível, Eunice Muñoz. Gente do teatro, do cinema, da música, das artes plásticas, do jornalismo, das letras, ali conviviam com serenidade e gosto.
A escritora Isabel da Nóbrega começou a ser habitual e depressa se tornou uma amiga dos donos do atelier. Senhora de bom berço e fino trato, inteligente e culta, bem instalada na vida, caíu numa cilada do demónio. Apaixonou-se por um zé ninguém, nem sequer bonito, muito menos simpático e bem educado, que olhava tudo e todos de nariz empinado, numa pseudo-superioridade de quem tem contas a ajustar com a vida, quezilento e muito chato. Falava como um pregador de feira e era intragável. Mas, em atenção à Isabel, lá íamos aturando o José Saramago.
Para mim, que sou péssima, foi ponto assente: aquele não a ia fazer limpa, era um depósito de ódio recalcado. Foi por isso que não me admirei nada quando o vi director do Diário de Notícias, a mando do Partido Comunista, onde, da noite para o dia, lançou ao desemprego 24 jornalistas, dos da velha escola, dos que escrevem com pontos e vírgulas, deixando-os, e às famílias, sem pão. Tambem não fiquei minimamente surpreendida quando soube que abandonou Isabel da Nóbrega, que tanto fez por ele, para alvoroçadamente casar com uma espanhola que foi freira e tem vastos conhecimentos no mundo da política e das letras. Para mim, estava tudo a condizer com a figura.
Cá de longe soube que publicava livros e vendia muito. Não me aqueceu nem arrefeceu, porque nunca li nada escrito por ele nem tenciono perder tempo com isso. Não me apetece, e está tudo dito. Nem o Nobel que lhe deram me impressionou, porque já vi o Nobel ser dado sem critério algumas vezes. Acho mesmo que o prémio está a ficar muito por baixo.
E agora, o homenzinho da Golegã a chamar nomes a Deus, a insultar a Bíblia nuns raciocínios primários de operário em roda de tasca. Dizem que o fez por golpe publicitário. Talvez. Acho que é capaz disso e de muito mais. No entanto, creio que, no meio do aranzel, apenas houve uma pessoa que lhe fez o diagnóstico certo: António Lobo Antunes, numa magistral entrevista dada à RTP, há dias, respondeu a Judite de Sousa, que o interrogava sobre as tiradas de Saramago, que essas vociferações contra Deus lhe tinham feito medo. E adiantou: “tenho medo de chegar à idade dele assim, sem senso crítico”. Está tudo dito. É mais um como há tantos anciãos de tino perdido em Portugal. É deixá-lo andar. A mim tanto se me dá.

Fernanda Leitão

Ai meu Deus disse...

Duas notas (minhas) sobre a prosa dessa Leitão;

1) eu também tenho (todos temos?) gente que trato como a Leitão trata Saramago: não conheço e não gosto. É o que digo, por exemplo, da Agustina. A diferença em relação à Leitão, é que eu assumo isso como um preconceito meu -- e jamais tirarei daí as consequências que a Leitão tira: jamais direi que a Agustina, como escritora, não vale nada. A distinção entre o valor artístico e outros planos/níveis é essencial a uma apreciação intelectualmente honesta. Por isso é que acho esta Leitão intelectualmente desonesta. Digo eu...

2) Comecei de ler "Caim". E as primeiras impressões desiludiram-me. Não é este seguramente o escritor de quem eu gosto muito -- o Saramago do Memorial. São as primeiras impressões, mas parece-me que não seria com livros como "Caim" que Saramago ganharia o Prémio NObel. Nem seria por ele que ficaria (como eu penso que vai ficar) na História da Literatura.

(Mas -- antes que me puxem as orelhas -- as discussões em que aqui nos metemos foram sobre outras coisas).