Para não esquecer...

SÓCRATES E O PORTUGAL MODERNO

Todos nós vimos

(como poderíamos não os ver)
os múltiplos cartazes de propaganda eleitoral pagos com os nossos impostos, atafulhando o nosso horizonte visual, próximo e mais longínquo, conforme o tamanho do cartaz. Com palavras de ordem absolutamente vazias de sentido e pejadas de sonoridade. Breves, muito breves mensagens, como deve ser a mensagem do marketing e da publicidade, cada vez a parecer-se mais com a propaganda política, ou vice-versa. O que conta é a imagem. A imagem do líder, com mulheres a rodearem-no, em pano de fundo. Tão esbatida a imagem delas
(será esse o papel que se lhes atribui no pano de fundo das nossas mentes?)
que só um espírito sagaz e muito observador e de visão aguda reparava nas mulheres, e apenas quando se aproximava do cartaz.

Pois bem, a frase, ou antes, o slogan “Avançar Portugal” tem-me dado voltas ao miolo, e cheguei à conclusão de que o Engenheiro José Sócrates queria, e quer, que nos modernizemos e sigamos a Europa, como os lídimos líderes parecem seguir o mesmo alfaiate. A aliteração é propositada.

Porém, não é com decretos ou com voluntarismo que as ideias se põem em prática. Isso pode resultar numa empresa, mas não resulta em pessoas quando se trata de mudar mentalidades ou comportamentos. Tudo isso se constrói a par e passo; e não é com a destruição de toda uma classe, e com a desvalorização da Escola!

Mas já temos uma leve mudança, a qual todos os dias me faz querer continuar. Continuar a avançar, claro. Portugal está a ficar moderno; aqui vão exemplos dessa modernidade: a linguagem brejeira de um jovem, que de telemóvel em punho gritou ao cruzar-se comigo: estou aqui, c…! A decência não me permite ir mais além. Estaria a falar com quem? Ou ainda o pedido de um jovem do 11º Ano à professora, em plena aula e em tom muito sonoro: Professora, posso ir lá fora “c, á, guê, á, erre? Foi assim mesmo que a colega de 55 anos me relatou o sucedido, em tom muito baixo, de vergonha e impotência. Ou a conversa ininterrupta e diária, mesmo quando chove, dum grupo de jovens junto às janelas de moradores de prédios contíguos ao ponto de encontro dos mesmos, até altas horas, perturbando o sono de quem quer descansar, apesar da abundância de leis existentes no nosso país sobre o tema! Não é só o tom que incomoda, o conteúdo é inenarrável, tanto no vocabulário como nos temas abordados. E garanto-vos que, enquanto estendo roupa, sou obrigada, literalmente, a ouvir as conversas. Posso asseverar que as meninas a quem se referem são tratadas do modo mais rasteiro, que me confrange a alma e me arrasa os ouvidos.

E que dizer de uma adulta com dois filhos, um no carrinho de bebé, aos gritos, a outra de uns 4 anos, a fumar e a deitar, imperturbável, o fumo para a mesa da velhota que lhe pediu delicadamente para mudar o cigarro de mão: estou ao ar livre! Já me ia embora, mas agora já não vou, disparou desafiadora. E sentou-se. A velhota encolheu-se e olhou-me em busca de um olhar solidário. Foi tudo quanto conseguiu de mim. Eu cá não quero brigas nem confrontos verbais com gente desta. Mas senti-me mal. Eu que levei uma sova monumental do meu pai aos 19 anos por defender a causa da minha irmã. Que nem me dizia respeito. A causa, claro.


Hoje, numa esplanada, que desejo me sirva de oásis para as minhas leituras, com música de fundo celestial para os meus gostos musicais, com jovens empregados educadíssimos e solícitos, sem serem subservientes, reparo num buraco enorme na parede do dito café. Ante a minha estupefacção, o empregado elucidou-me com um sorriso indulgente
(ou seria de impotência?):
foi feito aos pontapés… E olhem que a parede é de ardósia! Fina, embora, mas de ardósia. Hélas, receio bem que esteja a ser esburgada do meu lugar de eleição, recentemente descoberto, para as minhas leituras e escrita.


Para se avançar é também necessário que o exemplo venha de cima. E todos os dias esse exemplo é esclarecedor, repleto de mixurunfadas inexplicáveis. Para mais esclarecimentos sobre vários assuntos do Portugal moderno, e não só, leiam o extenso artigo de Vitorino Magalhães Godinho intitulado “A Grande Ilusão”.

Do testemunho de Nuno Crato, no último JL, retiro o que se segue:
Aprendi a detestar o politicamente correcto… Comecei a perceber que o desboto se alastrava à educação, que o romantismo rousseaneano (sic) condenava as crianças à ignorância. Quando cheguei, (vindo da América -- esclarecimento meu), imperava o chamado método global de leitura – o meu filho ainda o sofreu (já agora, a minha filha também). Dez anos depois, estava em retrocesso e percebiam-se de novo as virtudes do método fónico. (Decrete-se, e os professores que fizeram formação sobre as virtudes do método global que se desenformem).
E muito mais à frente:
Continuo a pensar que é bom saber -- para além do saber utilitário -- (onde é que eu já escrevi, ou disse isto…) e que devemos transmitir aos mais novos o gosto desprendido pelo conhecimento. …
Ai, ai, não sei quem é mais romântico, se o Rousseau, se ele!

escrito por Gabriela Correia, Faro

1 comentário(s). Ler/reagir:

Visconde de estoi disse...

Ainda não percebi a razão de chamarem a sua excelência o primeiro desta freguesia, engenheiro.

Engenheiro de quê, se a Ordem dos
Engenheiros não o reconhece como tal, por 2 razões:

1 - A Univeersidade que lhe ofereceu o canudo, ao tempo só leccionava o 1º ano da licenciatura fr Engenharia

2 - A dita universidade era uma fraude, tanto assim que o nosso conterrâneo, o Gago, a mandou encerrar chegando mesmo a prender o trafulha do reitor e penso que também o filho.

No resto concordo, mesmo que isso em nada lhe interesse, com a ilustre postante
Disse