Mário Crespo escrevia habitualmente no JN artigos de opinião. Fazia-o pontualmente à Segunda-feira. O tempo dos verbos não engana: Mário Crespo deixou de escrever no JN! O artigo que hoje assinava, apesar de todos os salamaleques justificativos, que a direcção do jornal há-de tecer, não passou nas malhas da censura. O problema de Mário Crespo resulta tão-só de pensar pela sua própria cabeça e de ter opinião ao serviço de um jornalismo de causas, que é, como quem diz, um jornalismo na linha da frente na defesa da liberdade e da democracia. Mário Crespo ainda entende a “República” – coisa velha de 100 anos – como baluarte no anteparo de princípios éticos, sendo incansável na denúncia dos que usando a liberdade a tornaram refém dos seus mesquinhos interesses privados, fazendo da democracia o cadinho da sua intolerável propaganda. Mário Crespo sabia, até pela postura que sempre dera à cerviz, que a sua hora, tal como acontecera recentemente com outros, haveria de chegar. Talvez não pensasse que seria este o caminho: o de não olhar a meios para atingir os fins, mas ele que incansavelmente nos avisou, estava, desde há muito, certamente avisado: quem se mete com o dito, leva! Lamentável, fundamentalmente pela frutificação que tais exemplos, mais pestilentos do que a criatura, geram no país. “Que faremos, quando tudo arde?”
O Fim da Linha
[Mário Crespo]
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) na imprensa.O artigo foi picado daqui.
escrito por Jerónimo Costa
8 comentário(s). Ler/reagir:
Ai se fosse a Manelinha???. O que não deu que falar a suspensão da democracia e o casamento para a procriação!!! ai se fosse o Portas??? ai se fosse alguém do centro direita??? o que não tinha sido já??? E então se a isso se juntasse um Presidente de esquerda, como os incompetentes Soares que tanto defende esta maneira de actuar ou o iníquo trafulha Sampaio, já a procissão, dos "senadores" da nação ao Palácio de Belém há muito tinha começado... são os amigos socialistas a viver os verdadeiros valores da república: eliminar quem não nos convém e fazer do Estado um feudo para familiares e amigos...
Viva a democracia... viva a república dos incompetentes e do amigismo... que como nunca, está a voltar aos tempos áureos de 1910/1930. Por isso tanto empenho nas comemorações...
O que será a república do amigismo? Será uma doença nova?
Tem toda a razão: o período aureo da democracia foi 1933/1974. O resto... só desgraças.
Claro, houve uns curtos períodos de democracia no país das maravilhas quando gente maravilhosa (tipo 1933/74) recebeu o sagrado mandato do bom povo português: Portas, Cavaco, Barroso, Santana Lopes...
Não sabe o que é a democracia do amigismo??? dou-lhe alguns exemplos:
centenas de municípios sem minicipes (daqui a pouco cada bairro terá direito a uma camara), contudo em cada qual há um executico enorme que vive apenas e só dos impostos do povo; deputados mediocres fabricados pelos aparelhos partidários que vivem do orçamento do estado e se reformam passado meia dúzia de anos com reformas abonadas (no entanto fazem leis para diminuir as reformas daqueles que trabalharam uma vida inteira e para lhes aumentar ainda o tempo de trabalho efectivo para receberem em muitos casos, quantias ridículas); ex-ministros que saltam para o topo das empresas particulares sem se conhecer o currículo ou a competência; uma catrefada de governadores civis todos eles inúteis e bem pagos, mais os seus acessores, carrinhos, etc... (se considerar-mos que são nomeados pelo governo e que o mesmo aproveita em cada distrito os derrotados do seu partido a uma das muitas camaras municipais, está tudo dito...); políticos mediocres que saem do governo como saiu a D. Lurdes Rodrigues, mas que é imediatamente compensada com um "taxo" de nomeação do governo para o desempenho do qual não mostra possuir as devidas qualidades; os senhores que saem dos governos e são imediatamente postos nos lugares chave da administração pública... O Instituto de Juventude e o Instituto do emprego que ambos "empregam" uma grande quantidade de indivíduos que do currículo se conhece apenas o cartão de militância e o empenho em fazer coro nas diversas campanhas eleitorais... precisa de mais exemplos? Olhe à sua volta que eles abundam, a não ser que seja um beneficiário do sistema ou não lhe interese ver o que se passa...
Eu sei o que é a república do amiguismo, fique descansado. Do amigismo é que não. Todos andam preocupados com o acordo ortográfico, revoltados até. Talvez até o prezado anónimo! E ninguém se preocupa com os erros ortográficos. E sim, interessa-me.
Em que época fez a sua escola primária? Não me diga! Antes do 25 de Abril? Logo vi.
Pobre criatura que anda atrás do "erro ortográfico"!
Não é capaz de enxergar que se trata de uma gralha? Tanta ilustração e tão pouco espírito crítico. Não me diga que as subvenções, os subsídios e outras mordomias que sobram da mesa do orçamento, lhe toldam as ideias de tal modo que encontra o acessório e não é capaz de descobrir o essencial. O essencial é a calhandrice que o "seu" primeiro usa para justificar o "no coments" do Mário Crespo e o "demita-se já" o Charrua. Os erros ortográficos..., pergunte ao Vara que escreveu aquela linda carta de "suspenção" de funções e arrecada mais de 30 mil por mês. Irra, ainda lhe apetece escrever sobre ortografia? Faça qualquer coisa pela democracia, nem que seja por fax!
Pois claro anónimo/a, o que são uns erros ortográficos perante conteúdo tão rico e tão apurada consciência social? Com franqueza, ainda traumatizam a criatura com as correcções à forma.
M de M
Quem não pode com a verdade é natural que se tranzforme no rei dos traques, daqueles que quanto mais se olha menos se vê. Iluzionistas de palco que mechem a mão direita para isconder a carta que levam na isquerda. Ë uma verdade que berra por todo o paíz que uma pandilha de imbesis e ingnorantes ganham balúrdios só porque são amigos de algum amigo de um político. Pro carasas os diplomas e a ixperiência.
Que fasem estas bostas para abafar os que denunciam a pouca vergonha? Gosar com uns quantos erros esferográficos. Os do amigismo balofo nem erros tontográficos dão, porque não çabem nem precizam escrever para receber a sua maquia.
Confeço que aprendi a iscrever numa iscola privatisada pelo noço governo. Quem descubrir um erro aqui iscrevido é porque não gosta do governo. Mas á boa fé do noço çanto condestável que os ladrões aqui falados esistem en todas as isquinas.
Enviar um comentário