Para não esquecer...

SOLIDARIEDADE GOLPISTA

A solidariedade é um valor positivo. Num momento em que milhares de pessoas ficaram sem nada, incluindo parte da sua família, até os mais duros de coração metem a mão ao bolso e deixam cair uma moeda na lata, na cesta, na caixa ou no cabaz. Também podem ligar para um número de telefone para deixarem a sua ajuda usando o cartão de crédito.

Tudo caridade. Tudo solidariedade. Ou quase tudo, porque os chicos espertos sabem que as catástrofes são uma soberana oportunidade para ganharem umas massas e ficarem com fama de «boas pessoas» .

Já passaram por este blog os exemplos da Galp e de uma companhia de telefones. Pediam dois, enviavam um e metiam o outro ao bolso. Mas o método mais discreto
[mas não menos eficaz]
é o da publicidade paga com dinheiro da solidariedade. Um banco, por exemplo, lança uma campanha para angariar fundos para o Haiti. Abre uma conta onde se depositou uma determinada quantidade de dinheiro. O banco publica então um anúncio de página inteira no jornal de maior tiragem para informar que entregará às autoridades haitianas, digamos, 350 mil dólares, dos quais 50 mil são doados pelo banco. Pelo tipo de campanha, aceitemos que a quantidade recebida foi mesmo 300 mil. Para um leitor incauto tudo estaria perfeito e o banco passaria por ser uma instituição séria e solidária.

O leitor ainda não descobriu o golpe? Vejamos: O banco deu 50 mil dólares. O anúncio custou 52 mil. No fim do ano o banco desconta dos impostos os 50 mil da doação e mete os 52 mil na conta de publicidade. Sem contar os ganhos indirectos: o resultado da publicidade para o banco e a imagem positiva que provoca uma acção de solidariedade.

Só numa semana e só num par de jornais, pude somar mais de 300 mil dólares para pagar anúncios destes. Mais de 800 mil pães que os haitianos não comeram.

escrito por José Alberto, Porto Rico

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