Para não esquecer...

ARGUMENTOS DAS TOURADAS

Que uma tese seja defendida por um mau argumento
[que não seja defendida, afinal]
não prova que seja uma tese falsa ou que a tese contrária seja verdadeira. Acontece, com alguma frequência, que de ambos os lados
[os que defendem teses contrárias]
haja maus argumentos.

Seja o problema das touradas, recentemente reaceso em Espanha. Entendo que as corridas de touros são um espectáculo selvagem e que, como tal, deveriam estar proibidas há muito tempo em tudo o que é civilização decente: porque provocam sofrimento inútil
[e sofrimento transformado em espectáculo e gozo];
porque são a afirmação de uma espécie
[a humana]
que transforma o seu poder sobre as demais espécies, através do seu poder, em superioridade sobre as demais espécies.

Entendo que o habitual argumento da tradição não tem qualquer valor de defesa das touradas. Há tradições que são autênticos anacronismos
[e como tal são/foram abandonadas]
e entre essas estão todas as manifestações de violência gratuita, mesmo quando transformadas em espectáculo. Se o argumento da tradição fosse bom, ainda hoje andaríamos por aí a assistir aos circos com gladiadores atirados aos leões.

Touradas excisão clítoris filosofia
Mas do lado de quem ataca as touradas também há maus argumentos. Recentemente, no Parlamento da Catalunha
[onde se discutia uma iniciativa legislativa no sentido de proibir as corridas de touros na Catalunha]
o filósofo espanhol Jesús Mosterín qualificou o toureio de "costume primitivo", situando-o ao mesmo nível da excisão do clítoris, da violência de género e da lapidação. Deixo para o leitor a resposta a esta pergunta: será este um bom argumento?

escrito por ai.valhamedeus

13 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Com tradição ou sem tradição, as touradas nada têm de reprovável. Quer quer vais, quem não quer fica... não estão em causa direitos fundamentais das pessoas, nem sequer dos animais. dizer que é um espetáculo cruel porque os touros sofrem mais ou menos é especular... na tourada - de que eu não sou adepto - há uma luta desigual entre o homem e o animal... o homem é obrigado a usar razão para levar a melhor sobre o animal... é uma "luta" justa.
Comparar a tourada aos gladiadores, a excisão do clitóris, ao sofrimento humano em geral (que é muito) é uma patetice... nenhum argumento que compare o incomparável pode ser bom.
S M

vitor m disse...

Como não estão em causa os direitos dos animais?!!
Como interpretar a violência gratuita e morte que são impostas (para mero gáudio dos humanos) aos touros?
Uma luta justa?! Mas, o touro alguma vez se safa?
Quando é forçado a esta "luta" não está já condenado à morte?

Frei José disse...

O comentário de SM é perigoso porque utiliza o argumento de que as coisas más só o são para quem se meter com elas. Ou seja, que um assassino goste de brincar com armas e de matar... não tem nada de reprovável. Quem não quiser ser assassinado que fique em casa. E conto acabado. Direitos fundamentais? Por que o direito ao gozo há-de ser inferior ao direito à vida?

Anónimo disse...

Pois é verdade... gostava de saber como medem esse grau de sofrimento dos touros... a questão de morrer ou não, não é fundamental, mas sim a maneira como sev morre... e com tourada ou sem tourada o animal vai para o matadouro. Mesmo para a preservação da espécie que de certo modo se mantém por causa das touradas é bom que elas aconteçam... se assim não for os tourinhos depressa se tornam espécie em extinção...
caro Frei não compare o incomparável... ver na tourada uma analogia aos assassinatos é pura e simplesmente não ter em conta o mundo dos animais e o mundo dos homens. Na tourada estão em confronto dois seres diferentes e com grande desvantagem, à partida, para o homem... num assassinato está em conflito um direito igual que é unilateralmente posto em causa... se um assassinato for tipo um duelo que ambos sabem ao que vão e aceitam a consequência dos seus actos, não tenho nada a opor... não gosto, mas aceito a liberdade individual de escolha... se for aquilo que acho que você está a pensar, ou seja, um acontecimento violento em que um ou mais dos seus participantes por um motivo qualquer e em situações diferentes decide unilateralmente atentar contra a vida de alguém, tal acto para além de revelar uma cobardia extrema e uma total falta de respeito pela vida dos outros (um indivíduo tem direito a fazer com a sua vida aquilo que quiser, mas não pode fazer com a vida dos outros nada que lhe não seja consentido), nada tem a ver com o direito dos animais... é pena que se continuem a misturar realidades que não são a mesma coisa... os animais têm direitos e os humanos têm direitos... como os animais não são humanos, os direitos de uns e de outros não podem pura e simplesmente ser transpostos para as realidades a que não pertencem.
S M

Anónimo disse...

As touradas só continuam a existir porque dão dinheiro. Mais nada. Qual preservação da espécie qual carapuça!
Os sociólogos é que vêem nelas uma forma de manter as populações nas suas terras, presas às suas culturas, em vez de emigrarem para as urbes a rebentar pelas costuras, e verem os seus filhos a ingressar num submundo qualquer. Aí, já me calo.
Mas, se eu fosse touro, não quereria ser pertença do último anónimo. Chiça!
G R

vitor m disse...

Não fui eu que trouxe à liça a questão da preservação das espécies.
O touro até é um animal que me é apenas ligeiramente menos antipático do que os toureiros, esses sim e o negócio que os sustenta, os verdadeiros sanguinários.
Não me revolta que animais (humanos ou outros) matem para sobreviver (nos talhos, nos aviários, na caça ou na pesca não desportiva), mas indigna-me que se mate por mero prazer do próprio matador ou de alarves audiências

Frei José disse...

Aqui quem compara incomparáveis é precisamente MS quem mistura alhos com bugalhos em cada comentário que escreve. No meu comentário não se comparam humanos com animais. Limitei-me a refutar o argumento usado por perigoso. E mantenho o que escrevi. Se está de acordo com as touradas, dê-nos razões aceitáveis. A que eu refuto é inaceitável pelas razões que apresentei.
Não contra-ataque por saídas de escape.
E não comentei nada da sua «luta justa» porque, por razões de consideração, tomei a coisa como uma anedota. Se assim não fosse, pensaria que na sua analogia do duelo, seria «justo», se um levasse una pistola de água e o outro uma de verdade. Estranho conceito de justiça.

Anónimo disse...

Os duelos normalmente eram praticados com regras definidas e aceites por aqueles que se viam envolvidos nos mesmos... normalmente não eram praticados por aldrabões que boicotavam as armas do oponente... muitas vezes sabendo que poucas eram as hipóteses de sobreviver... e isso faz toda a diferença. Não confunda gente de palavra com a canalhice que hoje abunda em todo o lado, nomeadamente, naqueles que nos governam...
Se não percebe os meus argumentos, tenho pena, mas dizer que é tudo tiro ao lado... só quem não quer ver... bastava ver o essencial, homens são homens (embora também sejam animais) e animais são animais (e que se saiba não são nem se prevê que sejam humanos)...
Já agora gostava de saber a opinião de todos os que tomaram os direitos dos animais por prioritários, sobre as centenas de experiências científicas que usam os animais como cobaias, com o propósito de melhorar a saúde em geral e combater diversas doenças em particular... quando são pacientes de uma maleita maldita, algum dia se questionaram de quantos animais sofreram para testar os medicamentos que os mantêm com qualidade de vida!!! Ou esses animais são menos "dignos" do que o touro que é usado no espetáculo???
S M

Frei José disse...

S M enche a sua argumentação de analogias e depois foge com o rabo à seringa que trata de lhe dar do seu próprio remédio. A dignidade da cobaia é igual à do touro, mas isso não resolve a questão do sofrimento e morte do touro para gáudio da populaça. O facto de todos os humanos serem dignos, não anula a diferença entre usar um deles como cobaia num tratamento experimental e usar outro para ser operado no palco de um teatro para diversão de um público ávido de sangue.
Não há ética para animais (porque dela não carecem), mas há ética para os humanos no seu relacionamento com os animais.

Anónimo disse...

e a ética dos humanos para com os animais nas touradas não é posta em causa. lamento muito, mas os argumentos aduzidos não me convencem... a tourada é um espectáculo em que o touro é tratado como deve ser, Não advém daí nada de prejudicial à ética humana no seu relacionamento com os animais...
continuo na minha, enquanto não me demonstrem o contrário... os animais são animais e até hoje não provaram que se possam considerar como humanos e os humanos para lá de humanos são também animais...
Não vale a pena chover no molhado e pregar no deserto. no mundo, ao contrário do que as minorias apregoam nem tudo tem o mesmo valor, nem tudo pode ser considerado da mesma maneira... valor absoluto, para o bem e para o mal (infelizmente mais para o mal do que para o bem!!!) só o concedo ao Homem... esse sim, em nenhum caso e de nenhuma maneira pode ver atacada a sua individualidade e escolha pessoal... desde que ela em nada colida com os outros indivíduos com os quais partilha a existência...
sm

Frei José disse...

Só uma perguntinha inocente: o que é que «apregoam as minorias»? E já agora, aproveitando a boleia, duas mais: e o que é que apregoam as maiorias? Maiorias e minorias em relação a quê?

Voltando à casuística das touradas, se a luta é tão «justa», por que razão quando um touro mata um dos seus rivais, não o deixam seguir vivendo e lutando? Quer ganhe quer perda, o touro está sempre condenado à morte. Podemos dizer que essa é a justiça e a ética das maiorias?

E fique lá na sua. Ninguém lha quer...

Anónimo disse...

pelos vistos há muitos que a querem, se assim não fosse não haveria espetáculo, ou seja, neste caso, não haveria touradas...
uma certa forma de pensar é que quer impor por decreto algo que a maioria rejeitará de viva voz, como seja o fim das touradas...
que eu saiba a democracia é a vontade da maioria, mesmo que seja má... não vejo motivo para que haja democratas que em vez de ouvir o povo o querem sujeitar a um conjunto de valores que esse povo não aceita... já agora como é o caso dos casamentos gays...
o resto é troca de argumentos com muita exaltação e pouca substância...
Nota bem que eu não sou adepto das touradas, nem nunca assisti a esse espectávculo, mas quero que aqueles que gostam continuem a poder lá ir e quero, para mim mesmo, se um dia lá quiser ir, que não tenha uma lei dos bem pensantes que mo impeça, erstá bem?
SM

vitor m disse...

Defender o fim das touradas não é comparável à questão gay. Os gays são humanos, estão organizados (e de que maneira), têm lobbies fortes, não precisam de terceiros para os defender.
Ao contrário, os animais, e neste particular os touros, não têm qualquer instrumento de defesa, devendo por conseguinte ser os humanos que discordam desta barbárie, a lutar contra este espectáculo degradante.
E quem gosta de touradas pode sempre, em substituição, ir a um estádio de futebol onde, aí sim, os beligerantes usufruem de idêntico estatuto...