Para não esquecer...

MUDAM AS MOSCAS

Isto não vos faz lembrar nada?

Por exemplo, as chorudas recompensas aos gestores de grandes empresas públicas, administradores de bancos e afins, enquanto nos sangram, e aos nossos filhos, os quais ajudamos a manter à tona de uma vida no limiar da dignidade, dizia, que nos sangram até ao ínfimo cêntimo. Agora até tenho na factura da conta da Internet mais uma parcela referente à Taxa Municipal dos Direitos de Passagem. Passagem de quê?

Até nem se me dava de pagar os tais 6 cêntimos se eles se destinassem a qualquer coisa que se visse. Mas o quê? Não descortino.

Devo mesmo estar a precisar de ir ao oftalmologista.
Mudam as moscas...

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno sacrifício
De trinta contos só! por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.
[JOSÉ RÉGIO. Soneto (quase inédito), escrito em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos]

escrito por Gabriela Correia, Faro

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