Uma colega, muito açodada, chegou-se a mim e disparou: sabes o que nos aconselhou o Papa? Nem tive tempo de responder que conselhos só da minha mãezinha, e olhe lá, e já ela enumerava o binómio da santidade -- pobreza e obediência.
Ora eu que já andava com essa fisgada de escrever sobre a pobreza, pensei: nem é tarde, nem é cedo! Pois aqui vai:
PRIVILÉGIOS DO POBRE *
JUAN DEL VALLE Y CAVIEDES (1652-1696)
Se se cala, o pobre é parvo;
um maçador, se é palreiro;
bisbilhoteiro, se sabe;
se é afável, é embusteiro;
se é gentil, intrometido,
se não atura é soberbo;
cobarde, quando é humilde,
se é audaz, não possui tento;
se é valente, é temerário;
presunçoso, se é discreto;
adulador, se obedece,
se algo recusa, é grosseiro;
com pretensões, atrevido;
com méritos, não ganha apreço;
sua nobreza é oculta,
sua veste sem esmero;
se trabalha é ambicioso,
e, pelo contrário extremo,
um perdido se descansa…
Vejam bem que privilégio!
[Trad.: José Bento]* in Rosa do Mundo (2001 Poemas Para o Futuro)
(que é já hoje, digo eu)
escrito por Gabriela Correia, Faro
4 comentário(s). Ler/reagir:
Ser pobre é mesmo uma chatice e nada de bom traz, não vale apena inventar dons para os pobres. O sistema os fabricam precisam deles (talvez) mas o bom bom era não haver pobreza. Ser pobre é muito muito chato não há que duvidar,
Inês Jacinta
Claro que a pobreza não pode ser um "bem" desejável por alguém que esteja no seu "perfeito juízo"!
Porém, não era a essa pobreza (como ausência de...) mas uma outra bem distinta aquela a que se referia Bento XVI!
Mas não pretendo dar lições sobre ela neste blog...
Mesmo assim, esclarecer que para aqueles a quem Bento XVI se dirigia, como "Pai na fé", a pobreza significa coisa diversa - significa antes total confiança em Deus (que é Pai)! Não, não é uma confiança tola em que eu nada faço e espero que tudo me caia "do céu". Trata-se antes da confiança alicerçada na fé.
Difícil de entender? Acredito! Exige essa dimensão "outra" que é a fé...
E quanto a aceitar conselhos...o Papa não falava (julgo...) para os de "fora" mas para os Católicos que são livres de aceitar "conselhos" daquele que consideram ser o sucessor de Pedro.
Haverá aqui alguma incoerência intelectual? Estarei, com essa atitude, a prejudicar algum concidadão nesta laica sociedade em que vivo?
Não, não está.
Admiro essa sua fé inabalável, mesmo perante os factos.
Já disse, e reafirmo, que não preciso de intermediários nem de sucessores para ter a minha espiritualidade.
Há, e houve, na igreja católica outros divulgadores da fé que têm mais autoridade moral para falar de Cristo, e que morreram por isso.
E há melhores pessoas, enquanto pessoas, ateus do que muitos católicos
Gabriela
Sem dúvida que há (ateus melhores pessoas que muitos católicos)! Absolutamente de acordo!
É (sobretudo) a esses, cujas humanas vivências muito deixam a desejar, que se dirige Bento XVI com os ditos "conselhos"!
E se calhar também aos restantes (católicos) que, provavelmente têm a honestidade de (ainda) se não considerarem "perfeitos"...
Enviar um comentário