Hoje é dia de Santo António, o santo casamenteiro, para além de ser o Padroeiro de Lisboa. Porém este Santo é multifacetado: é também o Santo dos “Perdidos e Achados”. Quem disser três vezes um responso a Santo António
(com devoção, está claro. Ou, pelo menos com convicção)terá a benesse de ver algo que lhe escapou, aparecer como que por milagre. Literalmente. Posso aqui revelar que algo parecido já aconteceu à minha mãe: não fosse a devoção ao santinho de uma cunhada
(que a minha progenitora não é apegada a essas chantagens emocionais)e as poucas jóias de família desaparecidas ter-se-iam esfumado para sempre. Após não sei quantos dias de rezas e responsos, eis que as ditas jóias do coração, mais que do bolso, caem, mas caem mesmo, não do céu, mas do cimo de um armário onde a minha mãe as guardara a recato de possíveis olhares cobiçosos. Esquecendo-se, de seguida.
Pena é que só apareçam coisas materiais!
Já os Brasileiros utilizavam o Santo para fazer aparecer os escravos fugidos. E se eles não apareciam batiam no Santo que penduravam de cabeça para baixo num poço, se bem ouvi à Maria João Seixas, no programa “Um Certo Olhar”, na Antena 2. Hoje. Dia em que também nasceu outro António -- O Pessoa. Que no dizer de Miguel Real, também no mesmo programa, é o Santo das Palavras.
E agora por palavras, o escritor Gonçalo M. Tavares, na sua visita à Rússia, aonde se deslocou entre os dias 11 e 19 do mês passado, a fim de participar na 1ª Comunidade de Leitores de Língua Portuguesa no mundo, promovida pela Associação Europa Viva, afirmou, para quem o quis ouvir, que existe uma violência política por via da manipulação da linguagem, nas democracias ocidentais. Devido à ignorância dos mecanismos da linguagem por parte do grande público, é cada vez mais difícil a comunicação. Muitas das vezes temos de avisar verbalmente o nosso público de que estamos a ser irónicos. Segundo este escritor, hoje em dia é possível aos políticos, sem mentir, dizerem precisamente o contrário do que está a acontecer.
(Eu que o diga).
(Estão a ver o bom que é para eles esta política governamental sobre educação?!).
Por fim, achando oportuno e que casa muito bem com o santo casamenteiro, e com o santo e poeta das palavras, transcrevo um terceto de Gonçalo M. Tavares sobre o Amor. Não o amor às coisas materiais, está bem de ver:
Amar é ver diferente.
Depois fica-se cego.
Mas primeiro é ver diferente.
(in Investigações. Novalis)
Eu não vos prometi que haveria de voltar à poesia de Gonçalo M. Tavares? And I like to keep my promises! Ao contrário de alguns.
escrito por Gabriela Correia, Faro
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