Uma mole imensa de gente, na faixa mais marcante do grisalho, transpunha, com vagar, os portões de acesso ao velhinho Pavilhão Rosa Mota. Os Supertramp, ou o que deles resta, após a saída de Roger Hodgson, iriam estar em palco para uma sequência performativa a que chamaram: “All the Hits And More”| 70-10 TOUR.
Um espaço imenso, misto de prata e ouro cintilantes, reflectia a dispersa parafernália instrumental que os holofotes, num jogo de intensidade variável, descobriam e escondiam, à espera da prometida animação.
Rick Davies atacou o piano; os sons do “rock progressivo”, que a banda
[ainda]
cultiva, foram tomando conta da sala, deixando a nu a clara desadequação acústica do espaço. Cada acorde, testando a memória, foi sendo brindado com enorme ovação, como se todos disséssemos, através do aplauso: - lembro-me bem! Passaram trinta, quarenta anos? Tanto melhor. As nossas vidas foram então temperadas por Dreamer, School, Even in the Quietest Moments ou, pouco importa, por Give a Little Bit. Álbuns como Crime of the Century, Crisis? What Crisis? ou Breakfast in America passaram em vertigem, aqui e ali, por um vídeo de escusada vulgaridade.
A geometria do som, desenhado pelo piano, pelo sax
[ou seria trompete?],ou até por uma fugaz harmónica, ritmada pela pujante bateria, impunha a indiscutível lembrança dos Supertramp. “Crime? What Crime?" A voz do alinhamento, muito semelhante, sem dúvida, à do original, deixou a descoberto a ausência que é
[era]também a “alma” – “The Soul” da banda.
Sem Hodgson, os Supertramp são pouco mais do que um honesto grupo instrumental o que é pouco para a grandeza perfeccionista que construíram.
Post-Scriptum: podem conferir, nestes Take the Long Way Home e It’s Raining Again, interpretados por Roger:
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