Para não esquecer...

hoje é sábado 115 TIMOR EM CASA

Nos dias da Unamet tu chamavas
Ouviam-se tiros ao telefone e eu sabia
Que nada valiam as palavras.
Não eras só tu que estavas desarmado
Éramos nós aqui no peso de cada dia
Cercados de milícias por todo o lado
Dentro da Unamet e dentro da casa sem ti
O cerco estava em Dili e estava
aqui
e a resistência era a mãe que não chorava
o teu irmão sem armas mas soldado
a tua irmã que perguntava.
Confesso que por vezes me arrepiava
o poema de Pessoa e a fria aragem
do
Menino de sua Mãe mas eu sabia
de manhã ao telefone repetirias a mensagem
"Não podemos abnadonar outra vez Timor".
Serenamente sem retórica não havia
na tua voz qualquer alarde ou sombra de temor
apenas a discreta difícil coragem
de quem estava a fazer o que devia.
[Manuel Alegre]

escrito por Carlos M. E. Lopes

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