Às vezes, nos jornais, há quem escreva com um lampejo de lucidez.
A “avaliação” dos professores, pela enésima vez, voltou a transformar-se no teleponto socrático. Muitos comentadores, que agora destratam
[por boas e saudáveis razões]o sr. engenheiro, ainda não perceberam que esta avaliação, tal como o seu mentor, não passa de um embuste destinado a acicatar uma incontida inveja contra toda uma classe profissional, instigando, na população, o jogo perigoso da caça ao professor. As escolas, fundamentalmente aquilo que delas se espera, cabem num simples binómio: ensino – aprendizagem. Transformá-las em campos de guerra de alecrim e manjerona, anula, por completo, o espírito colaborativo e cooperativo, que desde os imemoriais tempos da Civilização Grega, as trouxe até nós com alguma saúde e não menos equilíbrio.
A “avaliação” de professores, este malfadado modelo de avaliação, há-de levar os seus guias e o cortejo de apaniguados que os seguem, a repetir até à exaustão, como fizeram com a ajuda externa, que não é necessário outro modelo, basta remendá-lo, de PEC em PEC, uma e outra vez, que ele cumprirá a função para que foi criado, convençam-se: destruir a escola pública, tornando ainda mais impróprio o ar que aí se respira.
Já agora, questionemos um dos mais difundidos mitos urbanos sobre a avaliação: a escola pública, apesar de todas as reformas, não está melhor, basta que os pais o queiram conferir, em casa. As pseudo reformas e os malefícios que o consulado socrático inventou para a escola, cabem, por inteiro, na dimensão da propaganda. Uma avaliação – e os professores sabem disso – se se destina a melhorar o sistema de ensino tem que ser, antes de mais, formativa, devendo ser, a seguir, justa e imparcial. Qualquer destes pressupostos, que deveriam ser princípios, levará ao reconhecimento do mérito e à descoberta do que é necessário fazer para lá chegar. Mas nada disto mora no modelo.
Nenhuma reforma, apesar das dúzias de comissários e de fanáticos, plantados no terreno, vinga contra os seus principais agentes, principalmente quando se espalha a perfídia de que os professores não querem ser avaliados. Querem. Desde que a avaliação não seja um fim em si mesmo mas, tão-só, um meio de melhorar efectivamente as práticas escolares, deixando aos docentes o tempo bastante para fazer de cada aluno homens e mulheres capazes de enfrentarem um futuro incerto.
Também por isso vale a pena ler Joaquim Alexandre Rodrigues que, hoje (8.04.2011), no Jornal do Centro aborda o tema da Avaliação:

A “avaliação” dos professoresA “avaliação” de professores que Maria de Lurdes Rodrigues importou do Chile era um labirinto impraticável que foi tendo sucessivas versões mais ou menos “simplex”. Restou, no fim, um faz-de-conta que manteve professores de alhos a avaliarem professores de bugalhos.Esta “avaliação” de professores não acrescentou nada às escolas e não premeia nem tão pouco detecta o mérito docente. É um cadáver adiado que, agora, conheceu no parlamento um primeiro rascunho da sua certidão de óbito.Isabel Alçada — honra lhe seja feita! — conseguiu devolver senso ao ministério e recuperá-lo do desastre ecológico marilurdista. O desgosto que tem exprimido sobre o chumbo da “avaliação” docente é só política de serviços mínimos. Ela própria deve sentir-se aliviada.A ministra sabe que a burocracia avaliativa só serviu para piorar o funcionamento das escolas porque deixou um vazio onde antes havia uma cultura assente na cooperação e entre-ajuda dos professores para a resolução dos problemas.Depois deste desgraçado processo vai-se chegar à conclusão do costume: não há nada mais corrosivo que uma “engenharia social” vanguardista fechada nas suas teorias insensatas.
scrito por Jerónimo Costa
1 comentário(s). Ler/reagir:
Caro Jerónimo Costa, muito obrigado pelo destaque que dá ao meu artigo no Jornal do Centro.
Em 2007 e 2008 escrevi bastamente sobre a " barbárie avaliativa" marilurdista.
Depois chegou o actual faz-de-conta e um "faz-de-conta" não é assunto. Deixei de escrever sobre isso.
Vamos lá ver se cai algum senso nas escolas, ainda em 2011, nesta matéria.
Abraço
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