Para não esquecer...

A MINHA ROTA DA SEDA

Finalmente resolvi-me a cumprir a promessa que fizera no Verão!

E eu gosto de cumprir o que prometo.

Em meados do mês derradeiro do estio, na véspera da entrada do Outono, que este ano foi mais quente do que o Verão, a bem dizer, um punhado de trânsfugas da crise partiu em demanda, não das Terras do Preste João, mas das terras do Tamerlão.

Escala em Istambul, a cidade mais bela do mundo, no dizer de um escritor português que lá viveu onze anos. E de quem Napoleão afirmou:
Se a terra fosse um só estado, Istambul seria a sua capital.
Pode ser um exagero, e esta não ser a mais bela, mas é, com toda a certeza, uma das mais belas. Merece uma estada de pelo menos uma semana. E não chegará. Perdermo-nos, metafórica e literalmente, na miríade de cores do Grande Bazar já vale a deslocação. Quanto aos cheiros teremos de visitar o Bazar das Especiarias e embebedarmo-nos de tanto odor. A maior parte inacessível ao nosso limitado olfacto. Mas adiante.

O nosso objectivo primeiro era a Rota da Seda, no Uzbequistão. As linhas aéreas turcas não fazem totalmente jus à publicidade já que o intervalo entre as fiadas de assentos é exíguo, para quem viaja em turística, diga-se. A comida a bordo, porém, é bastante boa e as meninas que a servem, acolitadas por jovem mancebo escorreito e bem apessoado, lá vão preenchendo as escassas 4 horas de voo. Que sobre o Mar Negro ficou assaz turbulento. Comme d’habitude, segundo uma das hospedeiras.

Depois é a entrada na Ásia Central e nas cidades do Corto Maltese, Samarcanda, Tashkent, Bukhara, Khiva: não sei se ele teve aventuras em todas elas, mas em Samarcanda, teve.

Os azuis, verdes-água, rosas, das mesquitas e madrasahs, o complexo tumular de Samarcanda, constituído por mausoléus dos sécs. xiv e xv quando reinou Amir Timur, o Tamerlão, que proclamou: a força está na justiça.
(Que país fraquinho onde vivemos, tomando á letra estas sábias palavras).
Samarcanda que é referida por Marco Pólo no séc xiii, como uma grande e nobre cidade onde vivem Cristãos e Muçulmanos. Cidade que manteve intenso comércio com a China nos sécs. vii e viii, e cujos imperadores recebiam como tributo leões que habitavam nas montanhas a sul de Samarcanda, onde as doutrinas zoroástricas precederam a fé islâmica.

Depois, é um deslumbre para os olhos de turistas inocentes e de coração aberto à diferença.

O regateio é obrigatório. Se descemos o preço em demasia, respondem-nos: bancarrota, madame. Se, pelo contrário, achamos o preço exorbitante e o demonstramos no esgar e nas palavras ainda que estranhas, ouvimos, acto contínuo: your price, madame, your price! E ficam as duas partes contentes. Ah! Se o capitalismo sem rosto se baseasse neste conceito tão simples quanto humano! Por primevo.

Uma mais valia: ter feito anos no deserto de Kyzylkum, a caminho de Khiva, a “Florença do Levante”. A estrada era péssima, mas foi percorrida com paragens para piquenique, e outras. Digamos, para apanhar algodão, já que na primeira parte da viagem passáramos por vários campos dessa matéria-prima. O regresso foi feito de avião: uma escassa hora, quando antes gastáramos quase 16! Como no tempo das caravanas de camelos pejados de seda.

As linhas aéreas do Uzbequistão têm aviões mais bonitos e com mais espaço entre os bancos. E modernos. Pelo menos o nosso era. A aterragem no aeroporto de Tashkent foi das mais suaves que tenho feito.

E lá apanhámos novamente o avião turco de Istambul para Lisboa. A aterragem na capital portuguesa foi, como direi, fulgurante. Diria mesmo, tem-te-não-caias!

Vários dos trânsfugas ficaram com as malas entaladas no aeroporto de Istambul. Eu, como era das últimas na fila do check in, fui das primeiras pessoas a recuperar a minha. E das poucas que as recuperaram de imediato.

Donde, cada vez acredito mais nas máximas populares!

Para o ano continuaremos na rota da seda. Desta vez no Irão. Isto se o mundo não pegar fogo antes e os bolsos não ficarem estéreis.

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Gostei de recordar.Obrigada pela lembrança e Bom Natal. Até à próxima. Helena