E eu gosto de cumprir o que prometo.
Em meados do mês derradeiro do estio, na véspera da entrada do Outono, que este ano foi mais quente do que o Verão, a bem dizer, um punhado de trânsfugas da crise partiu em demanda, não das Terras do Preste João, mas das terras do Tamerlão.

Se a terra fosse um só estado, Istambul seria a sua capital.

O nosso objectivo primeiro era a Rota da Seda, no Uzbequistão. As linhas aéreas turcas não fazem totalmente jus à publicidade já que o intervalo entre as fiadas de assentos é exíguo, para quem viaja em turística, diga-se. A comida a bordo, porém, é bastante boa e as meninas que a servem, acolitadas por jovem mancebo escorreito e bem apessoado, lá vão preenchendo as escassas 4 horas de voo. Que sobre o Mar Negro ficou assaz turbulento. Comme d’habitude, segundo uma das hospedeiras.
Depois é a entrada na Ásia Central e nas cidades do Corto Maltese, Samarcanda, Tashkent, Bukhara, Khiva: não sei se ele teve aventuras em todas elas, mas em Samarcanda, teve.

(Que país fraquinho onde vivemos, tomando á letra estas sábias palavras).Samarcanda que é referida por Marco Pólo no séc xiii, como uma grande e nobre cidade onde vivem Cristãos e Muçulmanos. Cidade que manteve intenso comércio com a China nos sécs. vii e viii, e cujos imperadores recebiam como tributo leões que habitavam nas montanhas a sul de Samarcanda, onde as doutrinas zoroástricas precederam a fé islâmica.

O regateio é obrigatório. Se descemos o preço em demasia, respondem-nos: bancarrota, madame. Se, pelo contrário, achamos o preço exorbitante e o demonstramos no esgar e nas palavras ainda que estranhas, ouvimos, acto contínuo: your price, madame, your price! E ficam as duas partes contentes. Ah! Se o capitalismo sem rosto se baseasse neste conceito tão simples quanto humano! Por primevo.
Uma mais valia: ter feito anos no deserto de Kyzylkum, a caminho de Khiva, a “Florença do Levante”. A estrada era péssima, mas foi percorrida com paragens para piquenique, e outras. Digamos, para apanhar algodão, já que na primeira parte da viagem passáramos por vários campos dessa matéria-prima. O regresso foi feito de avião: uma escassa hora, quando antes gastáramos quase 16! Como no tempo das caravanas de camelos pejados de seda.
As linhas aéreas do Uzbequistão têm aviões mais bonitos e com mais espaço entre os bancos. E modernos. Pelo menos o nosso era. A aterragem no aeroporto de Tashkent foi das mais suaves que tenho feito.
E lá apanhámos novamente o avião turco de Istambul para Lisboa. A aterragem na capital portuguesa foi, como direi, fulgurante. Diria mesmo, tem-te-não-caias!
Vários dos trânsfugas ficaram com as malas entaladas no aeroporto de Istambul. Eu, como era das últimas na fila do check in, fui das primeiras pessoas a recuperar a minha. E das poucas que as recuperaram de imediato.
Donde, cada vez acredito mais nas máximas populares!

escrito por Gabriela Correia, Faro
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Gostei de recordar.Obrigada pela lembrança e Bom Natal. Até à próxima. Helena
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