Para não esquecer...

EX-CITAÇÕES * 115. os feriados, a opinião

…A questão dos feriados criou condições favoráveis a um saudável debate sobre um tema cívico e cultural que poderia levar os portugueses a reflectir sobre o seu passado, o seu presente e o seu futuro. Infelizmente, não se passa assim e apenas se amontoam opiniões…

… os regimes liberais “democráticos”, onde se afirma afinal o poder da opinião dos que têm acesso a ela e não dos que estudam maduramente a realidade ou as suas representações. Há alguns anos atrás ainda vimos surgir o magistério dos que mais estudaram os temas, mas em breve, nesta lógica neoliberal, ele foi substituído pela força dos que têm possibilidades de opinar, inseridos no sistema do sensacionalismo jornalístico. E opinam sobre tudo: sobre política, economia, educação, futebol ou feriados.

… o 1º de Dezembro de 1640 se hoje é mais “uma data sem memória”- simples holiday bank, à maneira inglesa, em que não se fazem negócios (fazem sim nos centros comerciais, onde sempre se fazem) e os bancos estão fechados -- é  porque os governos não têm sabido(nem desejado) despertá-la, entretidos que andaram, e andam, primeiro, em deixar aprofundar e, depois, depois, em tentar superar a dívida soberana, de que são os principais responsáveis, com a sua velha política renovada e modernizada de clientelismo e de laissez faire, laissez passer

Por sua vez, confinar o 5 de Outubro (de que mal se acabou de se celebrar o Centenário, com certo impacto cultural e social) à formação da República jacobina e à “preparação do Salazarismo”, como faz Vasco Pulido Valente, é entrar por uma via simplista e finalista da história… 

…a história tem de ser entendida na sua complexidade e no seu momento. O grito republicano, como o grito liberal de 1820 e como o grito democrático de 25 de Abril de 1974, foi, sobretudo, um momento de idealismo, afirmado em muitos aspectos da vida portuguesa…. 

… a crise da Democracia a que assistimos é culpa da Democracia ou dos falsos democratas, dos carreiristas, dos “políticos profissionais” sem ideal e sem pátria?... 

…o certo é que terminar com feriados significativos, em nome da economia e da produtividade, é entrar pela mais lamentável das argumentações. Do mesmo tipo que tem justificado a crise da classe média, o desemprego e a profunda crise social em nome da solvência da dívida soberana a todo o custo ou que, noutro sentido, justifica pagamentos milionários de certos gestores… 

…constatamos que é um país doente aquele em que vivemos. A prova dessa enfermidade – que é sobretudo cultural – é que alegadamente se quer salvar a economia matando a História, esquecendo, por exemplo, que países produtivos, como a Finlândia ou o Japão, têm maior número de feriados do que Portugal. E por certo não ousariam extingui-los em nome da economia. 

[Luís Reis Torgal]

escrito por Gabriela Correia, Faro

0 comentário(s). Ler/reagir: