Para não esquecer...

hoje é sábado 181. FONÓGRAFO

Vai declamando um cómico defunto.
Uma plateia ri,perdidamente,
Do bom jarreta...E há um odor no ambiente
A cripta e o pó,- do anacrónico assunto.

Muda o registo,eis uma barcarola:
Lírios,lírios,águas do rio,a lua.
Ante o Seu corpo o sonho meu flutua
Sobre um paul,- extática corola.

Muda outra vez os gorgeios,estribilhos
Dum clarim de oiro - o cheiro dos junquilhos,
Vívido e agro!- tocando a alvorada...

Cessou.E,amorosa,a alma das cornetas
Quebra-se agora orvalhada e velada,
Primavera. Manhã. Que eflúvio de violetas!
[Camilo Pessanha, in Antologia da poesia Portuguesa de Eugénio de Andrade, Porto, Campos das Letras, 1999, pág. 296]
escrito por Carlos M. E. Lopes

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