Para não esquecer...

LIVROS (2)

Na viagem de um livro, tirando o acto de escrever, há três momentos chave até chegar às mãos do leitor. A saber: edição, distribuição e venda.


A edição é a parte mais fácil. Em Portugal, temos mais de uma dezena de milhar de editores. Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Universidades, Institutos, Museus, Edições do Autor, Editoras, etc., etc..

Editar é hoje muito fácil, como se sabe. E há edições de livros feitas pelas autarquias que são úteis e imprescindíveis e que uma editora, dita normal, não faria. Há estudos locais e regionais que nunca veriam a luz do dia se não tivessem sido as autarquias, os institutos, as Universidades. Uma editora tem como móbil o lucro. Não assim a maior parte de outros editores. Certamente me dirão que há muito lixo nessas edições. Eu também acho, mas seria estultícia estarmo-nos a armar em censores de serviço. O leitor fará a escolha.

Depois pode-se, hoje em dia, fazer edições de alguns exemplares. Não é necessário milhares de exemplares. Há edições de um livro, por exemplo.

Perante esta panóplia de edições, o que é difícil, certamente, é detectá-los, saber onde estão, onde encontrá-los.

O outro passo importante é a distribuição. Aqui está um grande problema. Editei um livro há quase vinte anos. Entreguei-o a duas distribuidoras. Ambas faliram. Certamente não o fizeram pelo "peso" do livro que editei... A distribuição é um problema grande com que nos defrontamos. Aqui, neste capítulo, a distribuição directa, via net, penso ser a solução. Não há grandes distruibuidoras e as que há têm de ser cautelosas nas obras que distribuem. Não se podem dar ao luxo de andar a "passear" livros pelo país. Tanto mais que as vendas não têm crescido muito (se é que não têm diminuido) e os títulos disponíveis são cada vez mais. A distribuição, com vendedor de livraria em livraria, tem tendência a desaparecer, tanto mais que as livrarias têm tendência a ser cada vez mais dos próprios grupos editoriais -- veja-se a Leya, a Porto Editora e a Babel.

Por fim, as livrarias. A tendência é que fechem livrarias e que os grandes grupos editoriais tenham a sua própria distribuição e as suas livrarias. Depois, uma livraria generalista de um pequeno livreiro, que critérios utilizar nas aquisições? É que hoje editam-se em Portugal quinze mil livros por ano. Em 2010 foram editados mil milhões de livros no Mundo (julgo que não são títulos mas, mesmo assim...)!!! Isto é, em Portugal, editaram-se cinquenta livros por dia. Como pode uma livraria reagir? Que critérios utilizar, uma vez que é impossível ter todos ou dez por cento dos livros editados (note-se que dez por cento significava cinco livros novos por dia). A tendência é ter livros que se vendem (a venda de livros é uma actividade comercial). E aí começa a discussão. E os livros de referência? Por exemplo, é possível encontrar Os Lusíadas comentados por António José Saraiva?

Olhemos para Lisboa, Faro, Viseu. Onde estão as livrarias que foram referência nestas cidades?

Alguns leitores dirão que, se os investidores da Leya se meteram nos livros, é porque é uma actividade lucrativa. É, o livro escolar! O livro escolar representa, se não me engano, quarenta milhões de euros anuais. E aí temos a Leya e a Porto Editora. Eles não vieram para o livro por causa do livro em geral, mas sim por um sector muito específico do livro. O resto é por uma questão de prestígio. Não é com o Barca Velha que se ganha dinheiro, mas é o que dá prestígio.

(segue)

escrito por Carlos M. E. Lopes

1 comentário(s). Ler/reagir:

Ilda Ribeiro disse...

A ideia de aliar os livros ao vinho seduz-me, um bom livro um bom vinho traz a paz de saborear o tempo. Quanto ao lucro isso já não sei, Barca Velha, Pera Manca não dá lucro? será? ao preço que compramos não parece! mais que pagamos a peso de oiro aquele sabor e aroma! Livros haverá que dão lucro (digo eu!) A feira do livro dizem que fez bom negócio, e Mia Couto quando por aqui passou teve uma boa fila para compra da confissão da leoa...Com ou sem lucro que não se acabem os livros nem o vinho, o prémio Decanter em Londres colocou os nossos entre os melhores,mais caros ou mais baratos sempre são da casa!