Para não esquecer...

hoje é sábado 208. PRELÚDIO DE NATAL

Tudo principiava
pela cúmplice neblina
que vinha perfumada
de lenha e tangerinas

Só depois se rasgava
a primeira cortina
E dispersa e dourada
no palco das vitrinas

a festa começava
entre odor a resina
e gosto a noz-moscada
e vozes femininas

A cidade ficava
sob a luz vespertina
pelas montras cercada
de paisagens alpinas

E a multidão passava
E a chuva era tão fina
que parecia filtrada
de taças clandestinas

Finalmente chegava
Triunfal    em surdina
a noite convocada
em todas as esquinas

Mas não se derramava
como tinta-da-china
Na cidade acordada
Já se ouviam matinas
[Mourão-Ferreira, David, Obra Poética, 1948-1988, Editorial Presença, Lisboa, 1988, pág. 224-225]

escrito por Carlos M. E. Lopes

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