Tudo principiava[Mourão-Ferreira, David, Obra Poética, 1948-1988, Editorial Presença, Lisboa, 1988, pág. 224-225]
pela cúmplice neblina
que vinha perfumada
de lenha e tangerinas
Só depois se rasgava
a primeira cortina
E dispersa e dourada
no palco das vitrinas
a festa começava
entre odor a resina
e gosto a noz-moscada
e vozes femininas
A cidade ficava
sob a luz vespertina
pelas montras cercada
de paisagens alpinas
E a multidão passava
E a chuva era tão fina
que parecia filtrada
de taças clandestinas
Finalmente chegava
Triunfal em surdina
a noite convocada
em todas as esquinas
Mas não se derramava
como tinta-da-china
Na cidade acordada
Já se ouviam matinas
escrito por Carlos M. E. Lopes
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