Para não esquecer...

hoje é sábado 209. NADA/NATAL

Este lume que já nos não aquece
Este medo do nada que nos contem
Esta névoa de nata em vez de neve
E a nossa vida cada vez mais ontem
Este Sol que não rompe sob os cactos
Estes mortos de novo hoje tão perto
É no búzio dos crânios exumados
que melhor nós ouvimos o deserto
Estas folhas de plátano Estas mãos
que o fogo vai torcendo lentamente
Esta cinza no fim de uma oração
Este sino Este céu sobrevivente
Mas soa a meia-noite E logo o nada
deixa de estar em tudo como estava

[Mourão-Ferreira, David, Obra Poética, 2º volume, Livraria Bertrand, Lisboa/Amadora, 1980, pág. 85]

escrito por Carlos M. E. Lopes

0 comentário(s). Ler/reagir: