Olho, surpresa, ou será maravilhada?, as folhas largas dos hortícolas dispostos na prateleira da frutaria. Aquelas folhas não parecem condizer com o nome dos produtos habitualmente expostos. Mais parecem produtos de outras galáxias, produtos próprios de filmes de ficção científica, alimentados a raios ultra-violeta, a radioactividade, a químicos desconhecidos. Cheiro-os. Não reconheço nenhum dos cheiros. Aliás, nem cheiram a nada, a bem dizer.
Mesmo assim, a desconfiança e a dúvida não me impedem de os atirar para dentro do cesto. Sim, do cesto! Eu não uso sacos de plástico. Para proteger o ambiente; mas compro produtos cuja proveniência desconheço! Evidentemente que só compro os que têm a acompanhá-los a informação: Origem - Portugal. Mas eu sei lá se o dono da frutaria não me está a mentir, adulterando o percurso dos vegetais. Quiçá, são mais viajados do que eu, que estive recentemente no Irão? Novamente a dúvida metódica: eu sei lá se ele próprio come os produtos que vende, como confessou, há largos anos, um vendedor de mercado a um jornalista: à pergunta deste, se comia os produtos expostos, ele respondeu com um rotundo NÃO.
A verdade é que, na caixa, outras clientes manifestaram igual dúvida quanto à “beleza” dos produtos: Será salsa? Esses também não parecem coentros… E não cheiram a nada! O rapaz de plantão à máquina registadora, filho e empregado do patrão, sentiu-se compelido a defender o pai? O patrão? Os vegetais? Ou o posto de trabalho? Pouco convicto, pareceu-me, disse: Ah! É outra qualidade…
Pois! Anda meio mundo a enganar o outro meio. (Dizem-me que o ratio já se alterou substancialmente para o lado dos aldrabões). Isto de estar vivo ainda acaba mal, disse alguém; com muita graça, acrescento eu. E mais digo: God bless us all!
E já que estamos em maré de aforismos: God bless this house, shame the bank owns most of it, frase que encontrei num bloco de notas em forma de casa, numa livraria. Que posso parafrasear: God bless this country, shame the markets own it all.
escrito por Gabriela Correia, Faro
A IRIDESCÊNCIA DOS DIAS - 5
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Já agora, por que não substituir os mercados, pelos Chineses?
Zé do Telhado
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