Para não esquecer...

EX-CITAÇÕES * 132. é a greve!

A proximidade do final do ano lectivo deveria sugerir um balanço. Mas o estado de alerta permanente, a excepção, o susto, a incerteza vão minando tudo, rarefazendo o horizonte das vidas, dos trabalhos, dos dias. 
Agora que celebramos os cem anos de Albert Camus, apeteceria relembrar um célebre dito do autor --  “É preciso imaginar Sísifo feliz!” (…)

(…) Seria preciso imaginar Sísifo com sua pedra – o seu trabalho, o seu arrimo vital –, mas nem isso nos é já permitido, e os mais precavidos vão antecipando, gravemente, uma reedição de 2007. Ano em que a ilustrada, desenvolta e ´corajosa´ (conheço outro nome para a virtude assim descrita) Maria de Lurdes Rodrigues concursou a titularidade Professional.

Este ano, lá para o Outono, está prometido mais um ciclo de despedimentos na Administração Pública, de novo centrado nos professores e nas escolas, sob a forma de recondução a uma simulada reconversão profissional. Entre os professores, há que ser claro, a coisa tem um nome: exclusão, sem critério, e às ordens das suseranias locais, de professores de quem nem o trajecto profissional nem as qualificações serão escrutinadas, a exemplo do que sucedeu em 2007. (…)

(…) Orwell, falando sobre a guerra, explicou, em página célebre, que o segredo no campo de batalha é não ver o humano no inimigo. Camus contava que um alto dignitário do regime nazi – Himmler? – entrava em casa pelas traseiras para não acordar o canário. E muitos outros são os exemplos de insensibilização face ao humano. (…)

A minha tese é a de que a maioria dos detentores de cargos públicos electivos (directa ou indirectamente, mediante cooptação ou outra forma de designação tributária, porém de eleição, para servir também o geométrico ministro Gaspar) não conhece o significado e o valor civilizacional – para não acrescentar o pendor marcadamente racional, que não apenas sentimental – da cooperação. É que, com isso, querem um país reduzido a uma disputa infrene entre grupos dissidentes. Da liberdade, da lei, da mera decência. Já lá estamos.
[João Santos. In Escrever nas Margens]

escrito por Gabriela Correia, Faro

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