Para não esquecer...

TAMBÉM SOU BANQUEIRO

Na Revista do Expresso de 17 deste mês, um texto de Clara Ferreira Alves fez-me consciencializar de que também sou banqueiro. O que ela escreve referindo-se a ela aplica-se a mim, também. Transcrevo, sem assinalar cortes e mudando para o masculino o que no original é feminino por respeitar à autora:

Todos os dias sou dono de mais um banco. Todos os dias. Fiquei com o BPN e parece que com um banco em Cabo Verde que tem o bonito nome de Insular, Banco Insular de Cabo Verde, fiquei com o Banif, que anuncia nas Amoreiras, na parede lateral de um prédio, com um imenso cartaz desbotado pelos ventos, um amoroso cartão de crédito Hello Kitty, um sinal de maturidade financeira, e agora vou ficar com o BPP. No problemo, como dizem os mexicanos emigrados e os gangsters, o Estado injeta mais uns milhões de euros, aí uns 400 e tal, quase 500, mais milhão menos milhão, e ainda fica em casa porque o banco tem "disponibilidades". Lendo por alto fiquei com a impressão de que também passei a ser dono de um banco nas ilhas Cayman, o BPP Cayman, e se já adorava a ideia de um banco cabo-verdiano, Cabo Verde tem umas praias lindas, a ideia de um banco nas ilhas Cayman adoro, positivamente adoro. As ilhas Cayman são o máximo. Digo Cayman porque dizer ilhas Caimão tira-lhes um certo chique.
Os portugueses pagam sempre as suas contas, portanto a dívida pública é um garante, há money, há cheta. Há cheta para tudo o que tenha banco no nome. Claro que é um bocado seca sacar dinheiro a reformados com pensões superiores a 600 euros (600? para cima de uma fortuna), mas aquele dinheiro é certo, pode contar-se com ele, e isso é muito bom, chama-se ajustamento. Depois, se todos temos de pagar impostos, a verdade é que somos todos também donos destes bancos exóticos e dos outros bancos que compram dívida pública e a revendem com lucro e que têm depósitos do BPP nos cofres. É tudo meu, nosso. Além de eleitores passámos a banqueiros, caramba, se isto não é uma promoção...
Podem vir dizer que votamos sempre nos mesmos, os que só têm dois neurónios funcionais e compram swaps em nosso nome a tipos que depois de venderem swaps e enganarem o Estado vão para um poleiro no Estado, mas essa é a beleza da democracia. Não são os swaps deles, são os nossos swaps, é tudo nosso. É sacrifício repartido. Por isso venha o BPP, e venham outros, venha a Caixa, venham os que quiserem, nós pagamos, nós podemos pagar. Podemos pagar tudo, os bancos falidos e os políticos falhados e reformados, porque temos eleições para o mês que vem, depois outras, as legislativas, e mais as presidenciais, tudo com amigos nossos a concorrer, e podemos ainda ter as europeias. Querem mais? Vão mas é para as ilhas Caimão, a verificar os débitos.

escrito por ai.valhamedeus

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Ah, mas também somos donos das rodoviárias. Pelo menos foi o que o Paulo Morais afirmou na SIC, a quem o quis ouvir. Disse ele: o dinheiro dos cortes nos salários dos funcionários públicos foi direitinho para as PPPs Rodoviárias.
Cambada!
Gabriela