Para não esquecer...

CAFÉ E PACOTES DE AÇÚCAR

É um ícone. Urbano e cosmopolita. Mutante e mutável. Reinventa-se e faz-nos «companhia» nos momentos especiais e naqueles que achamos menos especiais. É ritual de culto, de charme e de glamour. Num gole de café expressam-se mil bagos de sensações. Emoções. Aromáticas. Mais ou menos amargas, mais ou menos doces, mais ou menos quentes, ou até mesmo geladas. Numa chávena de café cabem universos mágicos, daqueles que nos transportam para outras histórias de nós. Ele também tem a sua história, aliás, histórias. Lendas que fazem dele algo que consumimos de forma quase mística. Envolto em negócios secretos, em enredos amorosos, em coisas do demónio, dos anjos ou, simplesmente, banais. O café atravessou séculos, resistiu a tudo e impôs-se como um conceito. Sim, haverá outra bebida no mundo que possa provocar igual sedução quotidiana como o café? Curto, cheio, de saco ou expresso, com ou sem açúcar, pingado ou com cheirinho, escaldado ou gelado... cada café, Arábico ou Robusto, tem a sua personalidade. 
É nessa essência que nos enfeitiça. Sozinhos, tomamo-lo num momento de pausa, só nosso. Em companhia, tomamo-lo com amigos ou a dois, oferecemo-lo como cartão de cortesia e também o tomamos como pretexto de encontros e desencontros. À volta de um café dão-se muitas outras voltas. Aceita um café?
COM OU SEM AÇÚCAR
Porque adoçamos, geralmente, o café? Há quem explique que este acto acompanhou desde cedo os consumidores desta bebida milenar por ela ser demasiado forte e amarga, o que em muito contribui a fase de torração dos bagos de café. Também há especialistas que defendem a ideia de que se o café for de alta qualidade, suave e aromático, não deve ser adoçado. Existem até estudos, alguns bem recentes, como aquele que a Universidade de Barcelona divulgou, em que se assegura que a aliança entre cafeína e glicose eleva os niveis de atenção e de inteligência. Contudo, e como o café é e continuará a ser um ícone, o seu lado mais romântico e até social espalhou-se, como que por osmose, aos famosos pacotes de açúcar. 

Há até em Portugal, como também por outras paragens do mundo, associações e clubes de coleccionadores de pacotinhos de açúcar. Há muito que as marcas se aperceberam que num simples pacote de açúcar era possível passar várias mensagens. Tal como acontece, por exemplo, em t-shirts impressas com frases ideológicas. Num mercado tendencialmente voltado para o indivíduo como um ser único e especial, os pacotes de açúcar reinventaram-se no seu próprio conceito e hoje encontramos estas doces embalagens rectangulares carregadas de significado. Muitas marcas, algumas mais do que outras, apostam em campanhas de sucesso com frases a que ninguém fica indiferente. Quanto ao adoçante, a controvérsia subsiste e está sistematicamente agarrada a estudos. Mas seja lá como for - com ou sem açúcar, com ou sem adoçante - o café mantêm o lado mais dócil da vida. Na companhia de uma «bica» ou de um «cimbalino», de um “expresso” cheio ou de uma «italiana», esta é a bebida que romanceia e nos faz divagar por outras paragens. 
[Carla CONCEIÇÃO. Café: momentos de paixão. Gavião: Ramiro Leão, 2011, p. 7 e 21. Negritos meus]

escrito por ai.valhamedeus

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