Para não esquecer...

hoje é sábado 297. MANUEL BANDEIRA

Este poeta está
Do outro lado do mar
Mas reconheço a sua voz há muitos anos
E digo ao silêncio os seus versos devagar

Relembrando
O antigo jovem tempo tempo quando
Pelos sombrios corredores da casa antiga
Nas solenes penumbras do silêncio
Eu recitava
"As três mulheres do sabonete Araxá"
E minha avó se espantava

Manuel Bandeira era o maior espanto da minha avó
Quando em manhãs intactas e perdidas
No quarto já então pleno de futura
Saudade
Eu lia
A canção do "Trem de ferro"
E o "Poema do beco"

Tempo antigo lembrança demorada
Quando deixei uma tesoura esquecida nos ramos da cerejeira
Quando
Me sentava nos bancos pintados de fresco
E no Junho inquieto e transparente
As três mulheres do sabonete Araxá
Me acompanhavam
Tão visíveis
Que um eléctrico amarelo as decepava

Estes poemas caminharam comigo e com a brisa
Nos passeados campos da minha juventude
Estes poemas poisaram a sua mão sobre o meu ombro
E foram parte do tempo respirado.
[Andresen, Sophia de Mello Breyner, Obra Poética III, Editorial Caminho, 2ª edição, 1996, pág. 78]

Resumo (exibido na página inicial) Restante do conteúdo (exibido apenas nas páginas individuais) escrito por ai.valhamedeus Carlos M. E. Lopes Gabriela Correia, Faro Ya Allah Adriana Santos José Alberto, Porto Rico, Jerónimo Costa, Eduardo LG, Argentina

0 comentário(s). Ler/reagir: