Está comprovado, o primeiro-ministro incentivou mesmo portugueses, jovens ou não, a partirem em busca do emprego que escasseia cá dentro. Passou Coelho lançou, segunda-feira, um desafio no sentido de ser encontrada uma frase em que ele se pronunciasse nesse sentido e o PÚBLICO aceitou o repto (...).Ontem, resolveu voltar à carga como se tivesse razão. Tudo se resumiria a uma frase infeliz, num contexto específico, não fora o historial que sustenta a vontade e a intenção do Governo de promover a emigração como saída para a dramática situação do desemprego. E esse historial remete-nos para os meses anteriores em que um secretário de Estado e um ministro enaltecem as virtualidades de sair do país, deixar família, amigos e tudo o resto para trás em busca de emprego lá fora. Falam desta ruptura brutal como se se tratasse de partir numa viagem de inter-rail para “conhecer outras realidades culturais”, como se atreveu a dizer Miguel Relvas em pleno Parlamento.[In Publico, 10.06.2015]
A frase de Passos aconteceu dois meses depois e, ao contrário do que seria razoável, não foi para desautorizar os seus acólitos. Veio precisamente no mesmo sentido, porque era essa a verdadeira doutrina do Governo. Politicamente, empurrar os portugueses para fora servia para estancar as estatísticas terríveis sobre o desemprego e iludir o país sobre os efeitos das políticas de austeridade. Mas há ainda o factor humanidade… ou a falta dela. Esta equipa governativa foi pródiga em frases de extrema crueza para com uma população acossada por medidas muito gravosas para a sua vida. Entre a soberba e a falta de compaixão, o primeiro-ministro deu sempre o exemplo à sua equipa. Quem não se recorda da promessa “vamos cumprir [o programa da troika] custe o que custar”, ou o raspanete sobre sermos “menos complacentes” e “menos piegas”, ou a tirada motivadora anunciando que “só vamos sair da crise empobrecendo” A poucos meses de eleições, remexer no passado só traz de volta recordações indesejáveis.
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escrito por Gabriela Correia, Faro
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