Para não esquecer...

NA SEMANA DO DIA DA POESIA * 6


Não há Vagas 

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
 
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
 
- porque o poema, senhores,
   está fechado:
   "não há vagas"
 
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
 
    O poema, senhores,
    não fede
    nem cheira
[Ferreira Gullar, in 'Antologia Poética']

escrito por ai.valhamedeus

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