Para não esquecer...

O PAÍS DOS INHOS, DAS MARIAS, DO FADO... ETC.

Fugindo um pouco aos temas do momento que vivemos, neste país ridente, vamos debruçar-nos sobre outro tema candente, que se tornou numa “praga”: a utilização sistemática e sem critério do diminutivo. Mas apenas com acrescento do sufixo -inho ao vocábulo original. Tout court! Há pragas piores, dir-me-eis! Pois há.

Vejamos então! Saiam à rua e comecem a tomar nota da quantidade dos novos vocábulos, assim formados, digamos, ao longo de uma hora. Verificarão que não há chafarica, estabelecimento comercial, loja de cidadão, restaurante, café, refeitório que se preze, onde, a par de um sorriso (perdão, sorrisinho), os receberão com pelo menos um -inho, ao qual não conseguem fugir. Pois a todos os nomes constantes do dicionário do cliente, bem como do de quem vos atender se acrescentou um -inho: vai desejar um cafezinho, um saquinho, uma sopinha, uma aguinha, um talãozinho, um geladinho, uma facturinha, a continha? E por aí adiante.


[imagem copiada daqui]


Se conseguirem sobreviver a tanto -inho e chegarem a casa sentindo-vos um/a velhinho/a cair da tripeça, o/a qual compreende melhor a palavra cafezinho do que café, suminho (deveria ser sumozinho) do que sumo, etc. etc, pensando que vai finalmente sossegar do linguajar/linguarejar urbano, desengane-se. O telefone toca (outra praga), atendemos incautamente e então, as Marias deste país, e são muitas, passam a chamar-se Srª Maria, nome pelo qual nunca responderam.

E pode acontecer que ao desligarem, agastadas, o telefone, logo o telemóvel se ilumine com a mensagem onde lerão, alarmadas: Maria, venha ter connosco, temos a solução, blá, blá, blá. Normalmente é um rastreio auditivo, ou similar; em todo o caso, qualquer coisa relacionada com a saúde, ou a falta dela, dos velhos. E, portanto, mensagem essa semeada de -inhos.

Quanto ao Fado, é ocioso escrever seja o que for sobre o assunto. Os Portugueses descobriram-no e descobriram-se cantores incontestáveis, e incontestados, do mesmo. Ainda que alguns miem.

Dir-me-ão: para que havemos de nos preocupar com estas minudências, quando impende sobre as nossas cabeças o terrível aquecimento global, a nossa divida é, quiçá, impagável, os Bancos desmantelam-se um a um e reconstroem-se à nossa volta? Temos o trump, e a Le Pen, o da Coreia?

Pois, são mais e grandes preocupações a juntar aos pequenos aborrecimentos do quotidiano, que nos impedem de reparar nos maiores, por esgotamento das nossas energias.

escrito por Gabriela Correia, Faro 
[sob a influência do ruído da farra dos dias da Semana Académica. E com o velho AO.
P.S. Há um vocábulo ao qual o -inho se deve aplicar sem restricções: o café. Devido à crise, penso eu, o preço da chávena do café não aumentou, mas a quantidade do apreciado líquido diminuiu. Drasticamente. SEJAM FELIZES, QUAND MÊME!]

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