Para não esquecer...

APÓS A MORTE DE MARX...


 
Karl Marx morreu [a 14 de março de 1883] sem nacionalidade e sem deixar testamento. Os seus bens foram avaliados em 250 libras, baseado sobretudo no valor da mobília e dos livros da casa [...]

Engels morreu de cancro no esófago a 5 de Agosto de 1895. [...]
 
Após a morte de Engels, a tarefa de guardar e selecionar os papéis de Marx coube a Eleanor [filha de] Marx e ao seu amante, Edward Aveling. Embora espantosamente feio e merecedor de pouca confiança, Aveling era um sedutor que «precisava apenas de meia hora de avanço sobre o mais belo homem de Londres para seduzir qualquer mulher». Ele e Eleanor viveram juntos às claras, mas como a maior parte dos amigos eram atores, livres pensadores e boémios, ninguém se escandalizou. O que chocava muitos dos seus convidados era a maneira grosseira como ele a tratava: o escritor Oliver Schreiner descreveu Aveling como sendo um «rufia»; e, na opinião de William Morris, ele não passava de «um tipo com péssima reputação». Eleanor deu-se conta de como eles tinham razão em Março de 1898 ao descobrir que ele se tinha casado em segredo com uma atriz de 22 anos no verão anterior. A solução de Aveling para resolver a crise foi propor suicidarem-se juntos. Eleanor redigiu obedientemente um terno bilhete de despedida e tomou o ácido prússico que ele lhe deu. Escusado será dizer que Aveling nunca tencionou cumprir tal pacto e, logo que ela tomou a dose letal, saiu de casa. Apesar de não ter sido condenado, não há dúvida de que foi ele quem a matou. 

Laura [outra filha de Marx] e Paul Lafargue foram viver para os arredores de Paris à custa do dinheiro que tinham conseguido sacar a Engels. Em Novembro de 1911, quando ele tinha 69 anos e ela 66, decidiram que não valia a pena viver e suicidaram-se juntos. Um dos oradores do seu funeral foi um representante dos comunistas russos, um certo Vladimir Ilyich Lenine, que afirmou que as ideias do pai de Laura viriam a realizar-se mais cedo do que se julgava.

Quatro dos filhos de Marx morreram antes dele e os dois sobreviventes mataram-se. O único membro da família a escapar a esta maldição foi Freddy Demuth, que viveu e trabalhou tranquilamente na zona leste de Londres. Morreu aos 77 anos, vítima de um ataque cardíaco, a 28 de Janeiro de 1929. Nem ele nem ninguém nunca suspeitaram que pudesse ser o filho de um homem cujo rosto e nome eram já então conhecidos no mundo inteiro.
 
[Francis Wheen. Karl Marx. Lisboa: Bertrand, 2003, pp. 329-330]

escrito por ai.valhamedeus

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