Para não esquecer...

NA CABEÇA DE MONTENEGRO


Miguel Santos Carrapatoso
Na cabeça de Montenegro
Lisboa: Zigurate, 2024, 199 pp.
 
A história de Montenegro é um conjunto clamoroso de derrotas, copiosas derrotas. Desde sempre e em todo o lado. Mas é estoico. E, embora tenha o carisma de um calhau, nada o impede de vir a ser primeiro-ministro. Já vimos situações parecidas e opostas. Fernando Gomes, quando se recandidatou à Câmara do Porto, fanfarrão, foi derrotado por um Rui Rio sem chama. Nada impede que com Montenegro se passe o mesmo.

Dos dois partidos do “arco do poder”, o PSD é o que apresenta maiores dificuldades de se distinguir das suas sombras: Chega e IL. No caso de Montenegro, acresça-se Marcelo Rebelo de Sousa. Ambos lhe roubam eleitorado e lhe pisam áreas programáticas. Embora sem descurar a intervenção do Estado, Montenegro tem tido dificuldade em se demarcar e em dizer se afasta o Chega da área do poder, quando tudo indica que, sem IL e Chega, não poderá governar, a não ser que o Bloco Central se constitua no terreno.

No seu afã de se demarcar da IL e Chega – aquele com consistência programática e este, um manta de retalhos de slogans sonoros – daí que “Não assustar ninguém para convencer quase todos. Esquecer a ideia de «reformas estruturais», necessariamente temidas porque inevitavelmente disruptivas, fugir do espantalho da direita neoliberal e exorcizar o papão da direita reacionária e xenófoba. E, para isso, apresentar-se como uma versão melhorada de António Costa, a competência na continuidade, um projeto de renovação indolor.”(p. 146).

escrito por Carlos M. E. Lopes

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