Para não esquecer...

NA CABEÇA DE VENTURA

Vítor Matos
Na cabeça de Ventura
Lisboa: Zigurate, 2024, 188 pp.

“Quis ser padre e escritor. Ganhou notoriedade como comentador de futebol. Mas foi a descoberta de que havia mercado eleitoral para o discurso xenófobo que lhe proporcionou uma ascensão meteórica na política portuguesa”. A capa tem este resumo da vida pública de André Ventura. É, dos três livros sobre os líderes que se presume mais votados, o que mais vende, certamente. Todos nós queremos saber alguma coisa desta personagem.

Tendo lido o livro, fiquei com a ideia de que Ventura, apesar das boutades, é moderado. Pode parecer estranho. As interpretações religiosas dele deixam muito a desejar; as ideias, em geral, são repulsivas; mas ele explora um nicho de mercado que lhe deu notoriedade e apoio popular. Coisa diferente é o núcleo duro da sua entourage. Não surpreenderá que a criatura engula o seu criador. No seio do Chega há de facto fascistas, do piorio.

Ventura vai dizendo o que a maioria silenciosa quer ouvir. “Enquanto cresce, à medida que constrói caminho, com a subida exponencial nas sondagens, ganha ainda mais confiança. Mas uma coisa são as perceções; outra, as realidades: e André Ventura sabe ler e interpretar o que as pessoas querem ouvir, sabe alimentar essas perceções, e vai-se alimentado ele próprio delas” (p. 146). 
 
João Pereira Coutinho diz “Fez uma espécie de prospeção para saber qual seria o seu nicho e viu perfeitamente que faltava um partido populista de direita, tal como acontece nos outros países da Europa, e é mais um caso de oportunidade que de grande convicção ideológica. Oportunidade e oportunismo, claro” (p. 178).

Ventura copiou os grandes temas na Europa: refugiados, migrantes, minorias, religião, teoria da substituição e verbaliza-os, mesmo que nenhum desses temas sejam hoje problema em Portugal.

Mon chapeau!

escrito por Carlos M. E. Lopes

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