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A grande discussão que surgiu nos jornais sobre as presidenciais foi a de saber se o Prof. Cavaco Silva era ou não político. O homem de Boliqueime tentou afastar o anátema de incompetente com que os políticos são rotulados, com aquela saída tosca e sem jeito. Qualquer palerma (onde me incluo) que queira passar por sério, diz logo “eu não sou político”. Estou-me borrifando para o rótulo. Esta do Prof. Cavaco faz-me lembrar aquela da menina cuja mãe era substituta... Adiante.
Há meses escreveu o Sr. uma prosa no Expresso em que vem distinguir a boa moeda da má moeda, querendo dizer que os maus estão na política e que afastam os bons (a boa moeda). Até parece que o cargo de Presidente da República não é um cargo político... deve ser o de director de uma casa de meninas. A política é a mais nobre das ocupações que o homem pode exercer numa sociedade. E tenho o maior respeito por todos os políticos, ainda que possa não concordar com eles.
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É um facto que as eleições presidenciais não têm grande importância. Em 1982 o Dr. Mário Soares quis impedir que lhe sucedesse ser demitido outra vez pelo General Eanes e vai daí fez tirar a responsabilidade política do governo face ao Presidente da República. Mais tarde queixou-se... Mas o que é facto é que os candidatos da área do poder (há, como se sabe, mais candidatos do que os da área do poder -- entre eles, o que eu apoio) não discutem os poderes presidenciais, mas sim... programas de governo. Falta de assunto.
A figura de Presidente da República tem tendência a perder importância, face à diminuição dos seus poderes e à existência de maiorias parlamentares. Se, a princípio, o nosso sistema era encarado como semipresidencialista (e ainda é, para alguns), a vertente parlamentar tem-se sobreposto de forma nítida. Daí, aliado ao facto de não haver qualquer perigo de regime, estas eleições serem de uma sensaboria deslavada, só entrecortada pelo desespero em que as sondagens colocaram o Dr. Mário Soares, atrás de “son ami” Manuel Alegre.
A tendência é, pois, transformar o Presidente da República numa Rainha de Inglaterra, como figura decorativa, sem poder efectivo, só às vezes com alguma emoção quando surge um Santana Lopes na liça(a).
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Estas eleições, em que Cavaco Silva parece ir ganhar à primeira volta, terão como atractivo saber se o novo presidente irá (re)forçar o pendor presidencialista e como, sendo certo que vamos ter uma coisa desengraçada na presidência. Quanto ao Dr. Mário Soares, que descanse em paz.
A emoção não é muito grande. Mas trará alguma curiosidade.
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(a) A dissolução da Assembleia da República foi uma temeridade que podia ter custado, se o Presidente actuase com coerência, como era de esperar, a sua própria continuidade -- se acaso o eleitorado mantivesse o sentido do voto das anteriores eleições legislativas.
escrito por Carlos M. E. Lopes
As presidenciais e outras coisas
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