Para não esquecer...

A era do digital

NikonO digital está a derrotar, nalguns domínios definitivamente, o analógico. Poderíamos ilustrar a afirmação a partir da música (onde o cd praticamente mandou para o caixote do lixo o vinil).

Seja, no entanto, o exemplo da fotografia. A Nikon (uma marca de referência no fabrico de máquinas que fizeram ao longo de décadas as delícias de muitos fotógrafos) já anunciou que abandonará o ciclo das máquinas analógicas. A Konica Minolta fez o mesmo, a Kodak fizera -o há 2 anos e outras marcas lendárias ou fecharam ou vivem em grandes dificuldades de sobrevivência. Os produtos digitais já representam para a Nikon 95% do seu negócio.

Algumas das razões de tal êxito são evidentes: o menor custo, por exemplo. Mas há outras, algumas das quais têm que ver com o que poderíamos chamar uma certa filosofia do digital: a facilidade da (re)criação do mundo. Explico-me melhor transcrevendo o que Pedro Rolo Duarte escreveu há uns anos na DNA:

Registar e apagar — eis o argumento da fotografia digital. Eis um sinal que pode ser associado ao fim do século: escrever a história e reescrever quantas vezes se quiser, da forma que se quiser. Fotografar a realidade e fazê-la desaparecer — ou, pelo contrário, ampliá-la e dar-lhe a dimensão que jamais sonhou ter. Mudar o mundo. Nem que seja o nosso ínfimo mundo.

Há nesta geração digital — que não passa apenas pela fotografia mas chega aos cd's onde podemos construir a sequência musical que mais nos agrada, contrariando criadores, produtores e músicos, ou à televisão, ou ao cinema — uma nova ordem de informação, de registo, de documentação, que altera radicalmente ideias preconcebidas sobre o jornalismo, a verdade, o momento que se vive.

À nova ordem chamaria desordem. À desordem chamaria «privatização da realidade». Agora, a realidade é de cada um de nós. A tecnologia permite-nos privatizá-la até ao fim.


escrito por ai.valhamedeus

2 comentário(s). Ler/reagir:

martim de gouveia e sousa disse...

és tu, guames?

Ai meu Deus disse...

O próprio -- guames do outro lado do espelho.