Para não esquecer...

LEIT(e)URAS [3]

A Ilustre Máquina de Ramires

A capaEsta é uma obra singular. Eu, pelo menos, não conheço nada do género. O leitor mais atento, pelo título, associará à A Ilustre Casa de Ramires. Pois! eu também associei, mas a obra do grande Eça não é deste género.

Qual é, então, este género? A contracapa esclarece (e regista que a presente obra inaugurou o género):

Pode a fotografia ser um género literário, a par da poesia, do conto, da escritura notarial e do sermão? Depois da leitura de A Ilustre Máquina de Ramires, a resposta é obviamente sim.

Folheiam-se as 80 e tal "fotos" e entende-se a ideia: transfigurar a fotografia em uma, duas ou três linhas de texto. E deixar que a imaginação faça o resto -- exactamente como nas fotografias...

DeusVeja-se a foto reproduzida à direita. Diz o leitor que não vê foto nenhuma?! Pois... não vê porque não quer. Veja! Dou-lhe uma ajuda, reproduzindo o texto (do fundo de página -- o do cimo é o título), que poderá não se l/ver muito bem:
Pormenor de Deus. Foto de arquivo.
ParadoxoE, já agora que conseguiu vê-la, veja a que se reproduz à esquerda:
Fotografia ampliada de um paradoxo. O homem que está a acenar para a câmara, junto ao portão, não aparece na fotografia.
Não reproduzo mais nenhuma foto (que o autor deve querer que lhe comprem o livro), mas transcrevo apenas a descrição de mais duas ou três:
  • [do capítulo instantâneos]: A segunda guerra mundial observada ao microscópio. A partícula assinalada é Hitler. Repare-se como as ovelhas que pastam no canto superior direito, fogem dos bombardeamentos.

  • [do capítulo impressões genitais]: Avião despenhado numa vulva, vendo-se um passageiro tentando alcançar desesperadamente o dispositivo intra-uterino.
  • [ainda das impressões genitais]: Fotografia de um olho nu, exposto ao sol.
Para o/a convencer a adquirir o livro (da editorial fenda), aqui fica o índice:
  • instantâneos
  • crimes céleres
  • fotos de um homem morto
  • story a bordo de um crime
  • impressões genitais
  • retratos de delirium album
  • álbum de família de Afonso Colite
Estas páginas pretendem tão só que uma palavra valha mais do que mil imagens. São a aventura de um fotógrafo que não usa câmara, dedicada a todos aqueles que, para escrever, não usam nem caneta nem teclado. Para que não esqueçam: o cérebro é a câmara mais escura que existe.

escrito por ai.valhamedeus [com um abraço para o Jerónimo, a quem já deveria ter devolvido A Ilustre Máquina... e a quem juro que sou como Deus: tardo mas não falto]

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