Para não esquecer...

ESTADO LAICO, O NOSSO?

A recente tomada de posse do Presidente da República já tinha dado o alarme. O Sr. Cardeal Patriarca tomou assento entre os convidados institucionais, ao lado dos antigos presidentes da República. D. José Policarpo, com as suas garridas vestes cardinalícias, lá estava sentado em lugar bem visível e em destaque. Ora o nosso Estado é laico: isto significa não religioso; de acordo com a Constituição, todas as religiões se encontram fora do Estado e é garantida a liberdade religiosa (artº 41º). Ao permitir o destaque do Cardeal, o Estado português privilegiou uma religião em detrimento de outras. Fez mal. O Cardeal poderia ter sido convidado pessoal de Cavaco Silva -- mas, nessa condição, deveria ir para a galeria dos convidados pessoais, sem mais.

Em Tavira há uns anos que tenho verificado uma coisa curiosa: seja socialista, seja social-democrata, na procissão organizada pela Santa Casa da Misericórdia no Domingo de Ramos, os nossos vereadores fazem questão de segurar o pálio onde se abriga o pároco de Santiago. Uma cena edificante, digna da Idade Média: o poder político em manifesta vassalagem ao poder religioso. E a coisa é tanto mais grotesca, quanto confessos ateus e agnósticos não se furtam a esta experiência humilhante e a se prestarem a estas figuras.

Há um manifesto desejo dos nossos políticos locais de procurarem status social através destas manifestações de obediência e humildade: segurar no pálio é-lhes gratificante e, através de tal gesto, os autarcas dizem: aceitai-me entre vós que eu vos servirei.

Esta disponibilidade em servir tão ostensivamente a Igreja Católica viola a natureza laica do nosso Estado e privilegia uma religião. Por outro lado, este fervor religioso coincide com a passagem dos nosso autarcas pelo poder, sendo que desaparecem desta manifestação logo que são afastados. Não se vê mais rasto deles nas procissões seguintes, nem como meros acompanhantes. Isto dá ideia da religiosidade de tal gente.

Sempre assim foi. O novo riquismo sempre foi ridículo, analfabeto e alarve. Por isso se chama novo riquismo. Rastejante em relação aos poderes

(quaisquer que eles sejam),
o novo riquismo tenta, através destes actos sociais almejar a outros voos, ser aceite socialmente. A Igreja, essa, que já cá anda há dois mil anos, sabe-a toda e sabe usar isto muito bem a seu favor, pedindo privilégios, mantendo outros.

Porque a Igreja católica tem hoje um pálido poder em relação ao que foi, estas encenações são apenas ridículas. E já é muito.

Assim, caro leitor, se quiser ir ver a nossa Portugal Fashion, vá à procissão de Domingo de Ramos! é que a nossa socialite tavirense vai aos magotes para ver e ser vista.

escrito por Carlos M. E. Lopes

2 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Infelizmente essa submissão à Igreja Católica não existe só nos políticos do poder local. Existe nos políticos do poder central, e a nível local em todos os responsáveis pelas instituições públicas, ou em quase todos pois eu não conheço nenhuma excepção.

Anónimo disse...

Políticos de trazer por casa...ahahaha!!
Ai ai ai o que vai naquelas cabecinhas, mais valia um boné lolol!!
O poder da igreja católica não se entende mesmo!
Alice :-)