O GOVERNO DAS TANGAS

1. Em 2002, aquando do debate do programa do XV governo constitucional, o chefe governamental

   [Durão Barroso, recorde-se]

   sintetizou a situação económica do país

   [tal como ele a veria, supõe-se]

   numa frase que ficou famosa: «O país está de tanga». De tanga teria sido deixado pela má gestão dos governos socialistas.
   
   Foi a justificação para o recorrente pedido de sacrifícios, o aumento do IVA, a flexibilização das leis laborais, os despedimentos... e o resto que se sabe.
   
   
2. Em campanha eleitoral, em 2005, o actual primeiro ministro prometeu o fim do discurso da tanga. Recordo as palavras do próprio:

   «Não vai ser repetido o discurso do país de tanga porque isso foi muito prejudicial ao país. Não vai haver uma tanga II. Basta o que basta».

   Em rigor, não cumpriu o prometido

   [volta meia volta lá vem o apelo às mentiras com que os governos anteriores do psd, que deixaram o país de tanga, enganaram as contas dos actuais governantes. E pouco tempo após a tomada de posse, o governo pê-èsse encomendou um "estudo" ao Banco de Portugal; o seu governador concluiu que, se nada fosse feito, o défice seria de 6,83%. Nem 6 nem 7. Nem sequer 6,8. 6,83 (seis vírgula oitenta e três)! O país estava de tanga ...e tínhamos o circo montado!].

   Mas o discurso dominante é agora de facto outro. O País está bem

   [ou, se, por culpa dos anteriores psd, ainda não está, há-de estar].

   O sr. José de apelido Sócrates aumentou, um por um, praticamente todos os impostos

   [apesar de, já eleito, ter rejeitado tais aumentos. Textualmente: "Não. O meu programa nada prevê quanto ao aumento de impostos, porque a linha do PS está muito bem definida. É um caminho que visa consolidar as contas públicas, mas uma consolidação assente na redução da despesa do Estado e no combate à fraude e evasão fiscal"]:

   o IVA, o IRS, o ISP, o Imposto sobre o Tabaco e o Imposto de Selo... mas nada disto por mor da tanga do país. Porque o país está bem

   [ou, se, por culpa dos anteriores psd, ainda não está, está a melhorar]!

   Os agricultores reclamam. Os juízes protestam. Os professores manifestam-se. Os polícias também. E os militares, apesar das tentativas de proibição. Mas o país está bem!
   
   Um despacho do Ministério da Educação define regras para o lançamento do novo ano lectivo segundo critérios que o governo pretende inscrever no novo Estatuto da Carreira Docente, ainda em negociação

   [designadamente, no que se refere à substituição de professores].

   Contra o Estatuto ainda em vigor. Ultrapassa, portanto, através de despacho ministerial a lei vigente. Mas o país funciona bem. Democraticamente

   [sendo que a democracia é agora sinónimo da vontade de um governo, porque eleito com maioria absoluta]!

   A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar diz que Portugal é o país da União Europeia com maior prevalência de salmonelas nas aves poedeiras: 79,5 % contra 30% da União Europeia. Mas o ministro da Agricultura garante que o país está bem: "Não existe qualquer perigo de saúde pública ou de segurança alimentar para a população". Informa que o governo já fez as suas próprias análises e jura que, de acordo com estas, "a situação está substancialmente diferente e os resultados vão ser melhores".
   
   Os despedimentos continuam. A Autoeuropa treme. A General Motors

   [que recebeu incentivos no valor de 43 milhões de euros para se instalar em Portugal e obteve benefícios fiscais e apoio à formação que ultrapassam os 80 milhões de euros]

   ameaça quebrar o contrato de produção até 2008 que assinou com o governo português, encerrar a Opel da Azambuja e despedir quase 2000 trabalhadores

   [um dos maiores despedimentos colectivos dos últimos tempos].

   Mas o país está bem!
   
   
3. O país está bem?! o País não está de tanga?! Sou mais da opinião de que é este governo que nos anda a dar tanga! Tangueando-nos para mais facilmente nos malhar.
   

escrito por ai.valhamedeus