Para não esquecer...

CAPITAIS DA CULTURA

O governo deliberou acabar com as capitais da cultura. Na linha de Rui Rio, o governo acha que tal é um desperdício, sem retorno. O governo age bem. O governo é que sabe. Aliás, o governo sabe-a toda.

Acompanhei a Faro Capital da Cultura de forma mais próxima, por dois motivos. O primeiro tem que ver com a proximidade, passou-se na minha região; o segundo tem que ver com o presidente da Missão, que conheço

(e que colabora neste blog).
Se o primeiro me permitiu um acompanhamento próximo dos eventos, o segundo não impede uma posição crítica aos mesmos.

No que respeita aos eventos, o Algarve assistiu a concertos, exposições, festivais e espectáculos que não poderia ter se não tivesse tido a sorte de ter sido escolhido para capital da Cultura. As publicações que se fizeram foram o que de mais perene deixou a capital da Cultura. Dizer que não deixou nem fez público é uma crítica ignorante e estúpida. Em primeiro lugar porque num ano não se fazem públicos
[o público é o produto de formação e educação de gerações].
Em segundo lugar, não pode ser o único e exclusivo fim da Capital da Cultura. Mas fica-se indiferente quando se ouve a orquestra de Londres, se assiste a Teatro em Querença, ou à mostra de cinema do Mediterrâneo?

Com a burocracia a Faro Capital da Cultura arrancou com três meses de atraso. Mais: o “comissário” foi substituído a poucos meses do fim do ano de 2004, quando, qualquer pessoa sabe, o agendamento de concertos deve começar com, às vezes, anos de antecedência
[uma vez, fez-se uma conferência de Imprensa em Nova Iorque a anunciar uma exposição que se realizaria daí a três anos!!!].
Sujeito às normas públicas orçamentais, as decisões levavam semanas ou meses para ser desbloqueadas. Um pandemónio!

No que respeita a insuficiências, a Capital não se soube autopromover, não teve grande impacto junto do público, não conseguiu
(ou não se viu)
o empenho das autarquias
(esses dinossauros locais, gente impoluta),
o que teria permitido
(com alguma demagogia à mistura)
ter alcançado índices de aceitação na classe política, que não teve.

Ademais, a Capital foi escolhida pelo PSD, a que sucedeu o PS. Sendo o elenco da confiança do PSD, claro que deve ter merecido o desprezo do Governo PS, como convém.

Para não correr riscos não há nada como acabar de vez com as capitais da cultura e promover, incentivar e organizar eventos específicos, politicamente controláveis.

escrito por Carlos M. E. Lopes

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