Carissíssimo Ai.valhamedeus!
Com o agrado quotidianamente repetido li-te em tergiversações líricas
(un peu moins engagé!)na variação do vilancete de Camões, Descalça vai para a fonte… em tom de Gedeão & cópula pura (?) numa alegoria libertariamente lambretiana dos idos anos 60. E lembrei-me
(juro que vou ser breve!)de a teus textos adir mais três contributos perfeitamente “pastichados” na temática da transtextualidade ora abordada:
O 1º texto é uma écloga de Rodrigues Lobo
(1580-1622),o segundo é de Eduardo Leal e o terceiro de António Cabral.
Com estes dois autores estamos no auge do século XX, e se o primeiro canta os feéricos tempos das novas tecnologias, com uma ironia que transporta nos braços a amargura da guerra e da opressão, o segundo, com uma expressividade agressivamente suave
(ou suavemente agressiva),expõe le noyau de la braise de um neo-realismo premente.
Por mais que m’expanda pouco direi, deixo para os textos em epígrafe todas as revelações:
Texto I
MOTE
Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai formosa e não segura.
VOLTAS
A talha leva pedrada,
Pucarinho de feição,
Saia de cor de limão,
Beatilha soqueixada;
Cantando de madrugada,
Pisa as flores na verdura:
Vai formosa, e não segura.
Leva na mão a rodilha,
Feita da sua toalha;
Ergue com outra a fraldilha;
Mostra os pés por maravilha,
Que a neve deixam escura:
Vai formosa, e não segura.
As flores, por onde passa,
Se o pé lhe acerta de pôr,
Ficam de inveja sem cor,
E de vergonha com graça;
Qualquer pegada que faça
Faz florescer a verdura:
Vai formosa, e não segura.
Não na ver o Sol lhe val,
Por não ter novo inimigo;
Mas ela corre perigo,
Se na fonte se vê tal;
Descuidada deste mal,
Se vai ver na fonte pura:
Vai formosa, e não segura.
Texto II
Veloz vai pelo espaço
a nave de fibra pura…
Vai formosa e bem segura.
Leva na cauda motores
e nas asas reactores.
Tem faróis de luz que encanta,
Tão linda que o mundo espanta.
Leva lasers preparados
para homens dominados.
Leva sonhos destruídos
Para homens esquecidos.
Leva a guerra e a morte canta,
tão linda que o mundo espanta.
Texto III
Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura:
Vai formosa e não segura.
Se tivesse umas chinelas
iria melhor…, mas não:
c’o dinheiro das chinelas
compra um pouco mais de pão.
Virá o dia em que os pés
não sintam a terra dura?
Leonor sonha de mais:
vai formosa e não segura.
Formosa! Não vale a pena
ter nos olhos uma aurora
quando na vida – que vida! –
o sol já se foi embora.
Se os filhos se alimentassem
com a sua formosura…
Leonor pensa de mais:
vai formosa e não segura.
Há verdura pelos prados,
há verdura no caminho;
no olmo de ao pé da fonte
canta, livre, um passarinho.
Mas ela não canta: não,
que a voz perdeu a doçura.
Leonor sofre de mais:
Vai formosa e não segura.
Porque sofre? Nunca soube
nem saberá a razão.
Vai encher a talha de água,
só não enche o coração.
Virá um dia… virá…
Os olhos voam na altura.
Leonor não anda: sonha.
Vai formosa e não segura.
MOTE
Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai formosa e não segura.
VOLTAS
A talha leva pedrada,
Pucarinho de feição,
Saia de cor de limão,
Beatilha soqueixada;
Cantando de madrugada,
Pisa as flores na verdura:
Vai formosa, e não segura.
Leva na mão a rodilha,
Feita da sua toalha;
Ergue com outra a fraldilha;
Mostra os pés por maravilha,
Que a neve deixam escura:
Vai formosa, e não segura.
As flores, por onde passa,
Se o pé lhe acerta de pôr,
Ficam de inveja sem cor,
E de vergonha com graça;
Qualquer pegada que faça
Faz florescer a verdura:
Vai formosa, e não segura.
Não na ver o Sol lhe val,
Por não ter novo inimigo;
Mas ela corre perigo,
Se na fonte se vê tal;
Descuidada deste mal,
Se vai ver na fonte pura:
Vai formosa, e não segura.
Texto II
Veloz vai pelo espaço
a nave de fibra pura…
Vai formosa e bem segura.
Leva na cauda motores
e nas asas reactores.
Tem faróis de luz que encanta,
Tão linda que o mundo espanta.
Leva lasers preparados
para homens dominados.
Leva sonhos destruídos
Para homens esquecidos.
Leva a guerra e a morte canta,
tão linda que o mundo espanta.
Texto III
Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura:
Vai formosa e não segura.
Se tivesse umas chinelas
iria melhor…, mas não:
c’o dinheiro das chinelas
compra um pouco mais de pão.
Virá o dia em que os pés
não sintam a terra dura?
Leonor sonha de mais:
vai formosa e não segura.
Formosa! Não vale a pena
ter nos olhos uma aurora
quando na vida – que vida! –
o sol já se foi embora.
Se os filhos se alimentassem
com a sua formosura…
Leonor pensa de mais:
vai formosa e não segura.
Há verdura pelos prados,
há verdura no caminho;
no olmo de ao pé da fonte
canta, livre, um passarinho.
Mas ela não canta: não,
que a voz perdeu a doçura.
Leonor sofre de mais:
Vai formosa e não segura.
Porque sofre? Nunca soube
nem saberá a razão.
Vai encher a talha de água,
só não enche o coração.
Virá um dia… virá…
Os olhos voam na altura.
Leonor não anda: sonha.
Vai formosa e não segura.
escrito por paulo neto
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PARFAIT!
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