Para não esquecer...

O PAÍS DA DEDUÇÃO

No seu editorial “O País sem Sedução”, Manuel Carvalho tentou “envolver” os portugueses na vida do país; o que, teoricamente, é saudável. É sem sombra de dúvida o que todos deveríamos fazer. No mesmo texto critica o pecado, quase capital, “a culpa é dos outros”, que todos cometemos no nosso dia-a-dia; exortando-nos à reacção e acção, à luta contra o imobilismo, a anomia, o marasmo, a rotina. Enfim, o “deixa andar”. Numa tentativa clara de nos congregar no reconhecimento colectivo do erro, com vista a mudanças comportamentais que resultariam, para bem de todos, na construção de um país civilizado, situado em pleno séc. XXI, europeu de pleno direito e não por mera e acidental situação geográfica.

Bem pode ele escrever sobre a necessidade da congregação de todos na sacrossanta missão das causas comuns! É o mesmo que pregar no deserto.

Porém, as generalizações, como se sabe, resultam, as mais das vezes, injustas, ainda que sancionadas pelas estatísticas. Essa invenção que reduz a números o que não se pode quantificar.

Todavia, em meu entender, o País está cada vez mais, e mais profundamente, dividido em dois como, de resto, a Europa: há o país dos que usufruem das mordomias que o dinheiro, o poder, o conhecimento, as “ligações perigosas” proporcionam; o país daqueles que dominam e integram activamente a globalização, apropriando-se dos benefícios da mesma. Do outro lado estão, cada vez em maior número, os que apanham passivamente os restos. Por conseguinte, estes últimos recorrem à manha, ao comportamento enviesado e “fazem pela vidinha”, pois, pragmaticamente, pensam que se eles não fizerem por ela, quem o fará? E foi assim, sempre. É este sentir “de experiência feito” que nos faz correr. Cada um para seu lado.

A questão é: estará na altura de mudar de rumo? Valerá a pena? Valerá a pena seguir o mentor? Basta olhar para cima, para baixo, para os lados, em redor, para se tomar posição e continuar mas é “a fazer pela vidinha”.

Só que pela vida de alguns já não se pode fazer grande coisa. Donde, surge novamente a demanda: de quem é a culpa? Dos outros, claro! E aí temos a pescadinha de rabo na boca, o vira – o – disco – e – toca – a – mesma, o eterno círculo vicioso, viciante, paralisante, e tudo!

escrito por Gabriela Correia

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