“A Vida é Ai que mal soa”Ontem lembraram-se os milhares de mortos, não causados por bombas assassinas e efeitos colaterais das mesmas, mas em consequência do comportamento pouco cívico da maioria dos automobilistas. Alguém já apelidou de Guerra Civil o que se está a passar nas estradas do país.
João de Deus
(In “Campo de Flores”)
Lembrei-me, então, de que já escrevera um texto sobre o assunto, seguido de uns versos, em homenagem aos dois adolescentes atropelados mortalmente quando se dirigiam nas suas bicicletas para a Praia de Faro, no final do Verão de 2004.
Se reduzirmos assaz a velocidade e olharmos, “com olhos de ver”, como diria a minha Avó, veremos na berma, à nossa mão direita, a metáfora colorida da recusa do esquecimento.
Eu reparei. E foi assim que, indagando, me inteirei do sucedido.
Aqui deixo os versos sentidos que o meu coração de cidadã e mãe na ocasião me ditou.
As Flores dos Mortosescrito por Gabriela Correia, em Janeiro de 2005
Estão ali, à beira do caminho.
Sentinelas mudas
guardando a memória do anonimato,
invisíveis ao olhar
dos que, lestos, passam
em busca de sol
e de mar que galgam em pranchas urgentes.
Estão ali, à beira do caminho.
Lado a lado,
hirtos, parados,
assinalando a ausência.
Ausência que dói como silêncio palpável,
a derramar-se dos objectos,
teimosamente ocupando o seu lugar
no quarto inalterável.
Estão ali, à beira do caminho.
Duas manchas garridas na paisagem,
mantendo vivos
os fios que ligam as nossas vidas
frágeis, irrepetíveis.
Um grito colorido,
testemunho da existência de alguém
que não voltará.
De alguém que não gritará
com voz alvoroçada, da entrada:
― Até logo, Mãe!
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