O PAÍS DOS VINTE MILHÕES

Somos o país dos vinte milhões!

A expressão não é minha, mas adequa-se perfeitamente à situação presente, passada e, quiçá, futura, do tal país periférico de que fala Ana Gonçalves; da tal “tirinha esquálida e apinhada de gente no fundo da Europa”, segundo Pulido Valente, que teima em não ver o lado bom das coisas. Às vezes não é fácil.

Portanto: dez milhões de cumpridores, de patriotas, que percebem muito de educação. Oh, sim! Educação é com eles. Eles que contribuem para a guerra das audiências entre estações de televisão, as quais fazem mais pela “cultura” do país do que qualquer Ministério da dita. Guerras essas com honras de página inteira em alguma comunicação social.

Dez milhões de apoiantes do Primeiro-ministro e das medidas exemplares aplicadas aos prevaricadores. Prevaricadores esses que constituem os outros dez milhões, à cabeça dos quais vêm os malandros dos professores. Os professores mai las suas férias. Pecado maior com que urge acabar de vez para sossego dos dez milhões de cumpridores. Portanto, ao castigo! “Antes que venham aí os espanhóis” (sic) como me afirmou, com sabedoria lapidar, um cidadão de entre esses dez milhões de cidadãos exemplares.

É um fartar vilanagem! Estes novos inquisidores assistem contentes e ruidosos aos autos – de – fé na praça pública, onde fulgura a pira ateada pelas medidas “paridas”, no dizer de uma colega, quase diariamente e “devidamente” publicitadas. Tudo em prol de um ensino público de qualidade. Pois …

Obrigada, Sra. Ministra da Educação, por nos mostrar o caminho e por ter enviado, e continuar a enviar, para a reforma compulsiva profissionais que preferem perder dinheiro a continuar numa profissão desvalorizada e cujo futuro “só a alguns pertence”.

Obrigada, professores e comentadores omniscientes e mediáticos por perceberem tanto de tudo.
Obrigada, dez outros milhões de portugueses por perceberem tanto de tudo, e sobretudo de educação!

Obrigada a todos! Agora que vou passar a ser funcionária da empresa educação, já poderei tirar as minhas férias em qualquer altura do ano, como em qualquer outra empresa, e poderei beneficiar dos descontos das épocas baixas. Que bom. É que o meu ordenado de privilegiada agradece. Já me estava a custar comprar o jornal diário!

Ave, César e cesarzinhos! Nós, os prevaricadores, Vos saudamos!

P.S. : 31 de Outubro, dia Mundial da Poupança e do Halloween Mundial. Tem tudo a ver! Porque ambos surrealistas.

escrito por Gabriela Correia (Faro)