Vou deixar de ler o “Público”. É ponto assente. Se o não fizer darei provavelmente em doida e lá vou eu engrossar a lista dos que procuram apoio psiquiátrico, e ainda me arrisco a ser atendida em qualquer casa de banho, vão de escada ou “recanto” de corredor de um qualquer Centro Hospitalar!
Passo a explicar: a leitura das crónicas de alguns eméritos plumitivos do referido jornal, educadores do Povo e mentores de governantes, anda a deixar-me perplexa e heterónima. Chego a pensar que sou uma extraterrestre, habitante de um planeta virtual, mesmo um clone de alguém que vive na realíssima realidade real dos privilegiados.
E está a tornar-se potencialmente perigoso!
É que à força de me dizerem que sou uma privilegiada, já me estou a convencer de que o sou e existe, assim, o perigo real de pensar que andei equivocada e de começar a reivindicar aquilo a que tenho direito enquanto privilegiada. Assim sendo:
- Vou deixar de me levantar cedo para ir trabalhar e vou tirar férias numa ilha paradisíaca das Caraíbas ou no Quénia, fazer um safari, sei lá (eu até adoro animais)! E gozar a minha vida de privilegiada;
- Vou deixar de andar a pé, cuja principal razão é a de poupar gasolina, vou trocar o meu carro que já vai fazer 6 anos (e olhe lá) e comprar um Porsche ou Ferrari. E gozar a minha vida de privilegiada;
- Vou deixar de esperar pelos saldos na Zara e afins para comprar roupa nova, com meses de atraso; vou passar a comprar roupa de marca, como T-shirts tigresse da Cristian Dior, em Londres, Paris ou Nova Iorque. E gozar a minha vida de privilegiada;
- Vou deixar de lavar o cabelo em casa e passar a ir diariamente ao cabeleireiro. E gozar a minha vida de privilegiada;
- Vou contratar uma empregada que me limpe diariamente o meu próximo apartamento em condomínio fechado. E gozar a minha vida de privilegiada (e aviso já que não pagarei mais prestações ao banco para amortização do empréstimo pelas apertadas 3 assoalhadas, pois essa que as habita deve ser a minha clone e eu nada tenho a ver com ela);
- Vou passar a contratar uma cozinheira que me prepare iguarias em vez de comer na cantina. E gozar a minha vida de privilegiada;
- Vou passar a dizer po…, cara…, fo… e bué, pois segundo me disse um colega ontem, tempos houve em que um candidato a “pedagogo” muito conhecido na nossa praça afirmou que um professor vai à escola não para ensinar, mas para aprender com os alunos (já se retractou entretanto, ao que parece). E gozar a minha vida de privilegiada;
- Vou…
Ah! E vou faltar alegremente, não vou fazer ”népias” e vou-me “estar nas tintas” para os meus alunos! Parece ser isso exactamente o que o outro eu, ou o meu clone, andam a fazer.
escrito por Gabriela Correia (Faro)
2 comentário(s). Ler/reagir:
Retratou???!!!
Não quereria antes escrever: retractou?
Foi exactamente o que escrevi: retractou. É favor ler com atenção em vez de emendar o que está bem! Apesar de que todas as críticas construtivas serão bem-vindas. Mas não esta, naturalmente.
Gabriela Correia
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