Para não esquecer...

BANCOS E CARTÕES SILVER DE CRÉDITO

Recostada no assento do carro, com o sol a beijar-me, doce, o rosto, o rumorejar ali tão perto do mar, deslizei numa modorra morna e reconfortante para o mundo dos sonhos. E também dos pesadelos! Nele perpassavam a Ministra da Educação, os pais dos alunos, as pausas pedagógicas, o Estatuto da Carreira Docente, qual comboio fantasma na galeria de horrores de Feira Anual.

Nessa zona de limbo, entre a realidade e o sonho, sobressaltei-me com o som de mensagem no telemóvel da minha perdição. Mas também ligação ao mundo dos afectos, ponte preciosa e fio a prender a teia urdida no dia-a-dia. E ainda bem.

Helas, em vez da mensagem apetecida, a cabeça ainda imersa na nebulosa da semiconsciência, li, ansiosa, o écran. Era o meu, salvo seja, banco a anunciar-me o supremo privilégio do crédito do meu cartão silver! Excedendo, e em muito, o montante que aufiro mensalmente.

Mas não se quedava por aí; desejava-me boas compras e Feliz Natal.

Apesar das “boas novas”, apeteceu-me matar o mensageiro sem rosto…

Dada a impossibilidade de matar o mensageiro virtual, “deletei” a mensagem, no meio de raios e coriscos que se acenderam no meu cérebro.

Ponto 1. Apelo despudorado ao consumo

Ponto 2. Publicidade enganosa com inaudita desfaçatez. Crédito?! “Bem me eu finto”, como diria a minha Tia que já não precisa de crédito, lá onde ascendeu. Creio. Todos sabemos que temos de pagar. E com língua de palmo.

Ponto 3. Desconhecimento grosseiro da realidade religiosa do país. Eu posso ser Testemunha de Jeová; pertencer à Igreja Adventista do 7º Dia; ser xintoísta, budista, copta (não cota), ou até ateia.

O que não sou é parva.

Não haverá aí, no Código Penal, Civil ou outro, por exemplo Protecção ao Consumo, uma qualquer cláusula que puna estes tunantes a quererem-nos assaltar a carteira com tal descaro?

Num país de cidadãos sobre endividados, e em crise, vêm estes autistas “do camandro” a acenarem-nos com facilidades de crédito! Crédito, uma pinóia! Aqui é favor visualizarem a tão famosa peça das Caldas, imortalizada por Bordalo Pinheiro. (São os raios e coriscos aos saltos)

Em vez de nos anunciarem a almejada descida nas prestações da casa, do carro, da mobília, e quando é, outrossim, decretada a 6ª subida nas taxas de juro, num só ano, vêm-nos com esta “conversa para boi dormir”.

Pois! O outro que disse: “só nos resta entregar o país aos bancos. Só que estes não estão interessados no negócio, muito simplesmente porque o país já é deles” é que tem razão.

Deles, dos Seguros e de mais meia dúzia de empresas.

E não só! Futebolistas e afins.

escrito por Gabriela Correia

1 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

E por que motivo deu o seu número de telemóvel ao banco? Ou eles adivinharam?