Completam-se hoje 100 anos sobre o nascimento de Fernando Lopes Graça. Neste dia de 1770 era baptizado Beethoven
[provavelmente com um dia de idade, como era então hábito].O compositor português considerava Beethoven
o músico da RevoluçãoA vida de Lopes-Graça é também uma vida de luta. Com a luta do povo. Em "Ao sabor da música"[Francesa],por excelência. O idealismo transcendente da sua obra, coroada pela Nona Sinfonia, com o seu final coral sobre a Ode à Alegria de Schiller, o Hino da Liberdade e da Fraternidade humanas; o exemplo da sua vida exuberante, indomável e impoluta; o ardor da sua fé no destino e na redenção espiritual do homem -- fazem dele, mais que um grande músico, um dos gloriosos heróis e profetas da consciência moderna.
[Fernando Lopes-Graça - Obras Literárias : Opúsculos (1). Lisboa : Editorial Caminho, 1984, p. 190-191].
[Lisboa : Editorial Caminho, 1996, p. 75],António Cartaxo recorda um espectáculo na Sociedade Incrível Almadense, em 1946. Lopes-Graça levou o Coro da Academia dos Amadores de Música para um espectáculo que não mereceu uma única linha nos jornais mas justificou um relatório da PIDE, onde se podia ler a dada altura:
[...] A seguir, vários rapazes e raparigas, idos de Lisboa, formaram "Orfeon" e cantaram canções da autoria de alguns dos componentes do dito "Orfeon" entre as quais mais se destacaram "A Papoila, Ronda, Marcha e Canção do Camponez"... Na "Canção do Camponez" a letra aludia a que se passava fome e a que o trigo era cortado mas não mais era visto; a "Canção da Papoila" foi repetida por três vezes, por muito ter agradado a letra respectiva, que se baseava na côr do sangue a correr pela lâmina do sabre, côr que era igual à que as suas ideias aspiravam, com as quais devia romper a Aurora no dia em que deviam triunfar as suas almas. Terminado o espectáculo, e depois da direcção da Incrível Almadense ter oferecido ramos de flores vermelhas ao ensaiador e ao Dr. Armindo Rodrigues, o "Orfeon" seguiu em grupo até ao vapor, atravessando as ruas a cantar a "Canção da Papoila.A letra da Canção do camponês:
(Proc. 2585/SR, PIDE/DGS)
SoloOs intérpretes:
Adeus trigo, ai, adeus trigo,
depois de ceifado, adeus:
amanho-te e não mastigo,
ai, nem eu, nem eu nem os meus.
Coro
Ó escravo da campina
ouve o motor do trator
Com ele mudas a sina -
da terra és conquistador!.
Solo
Searas cor de sol posto,
meu mar alto de aflição
enche-o com suor do rosto,
ai, em troca falta-me o pão.
Coro
Ó escravo da campina etc.
Solo
Ai campos, como os meus olhos,
razos de água tanta vez:
foram-se espigas nos molhos,
ai, vem fome para o camponês.
Coro
Ó escravo da campina, etc.
Coro da Academia dos Amadores de Música
Fernando Gomes e Olga Prats - piano
escrito por ai.valhamedeus
1 comentário(s). Ler/reagir:
notável compositor wolfgang ai.valhamedeus mozart.
agradecimentos desta humilíssima ouvinte :)
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