Para não esquecer...

ZECA AFONSO

Fez 20 anos que morreu José Afonso.

José Afonso é daquelas pessoas que têm vários facetas e têm amigos para cada uma das suas facetas. O revolucionário, o lírico, o cantor, o professor. Se a maioria do grande público, já entradote, se lembra dos Vampiros, outros há para quem o Canto Moço é uma referência de liberdade, de juventude e despreocupação.

As primeiras referências que tenho de José Afonso é no Liceu e dos Vampiros. Era um valor absoluto. Levei alguns tempos a ouvir falar da canção, sem a ter ouvido. Até que a ouvi na Rádio de Argel com Manuel Alegre, com muitas interferências e de forma quase inaudível.

Já perto do 25 de Abril conheci o filho José Manuel, com quem privei. A filha mais velha, a Lena, poucas vezes a vi, com a Joana briguei, o Pedro mal o conheci

(era muito novo e só o via às cavalitas do pai nas areias da Praia da Fuseta).
Ao José Afonso, encontrava-o no barco do Fortunato na ida e volta da Ilha da Fuseta. Sempre com um livro na mão, cabelo encaracolado, toalha ao ombro, óculos de maça pretos, olhar distraído. Tinha uma tenda na Ilha onde raramente pernoitava. Eu, muitas vezes, fiz dela a minha casa. Tenho a ideia de uma pessoa com um feitio difícil, desprendido das coisas materiais ou, melhor dizendo, como me disse um dia Manuel Alegre, um franciscano. Sempre o achei uma pessoa seca e ríspida, mas não posso negar que sempre me fascinou e que continuo a ouvi-lo com prazer. Emociono-me sempre.

escrito por Carlos M. E. Lopes

5 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

Estava o Zeca já gravemente doente e Portugal esquecia-o ... ostensivamente!
Entretanto, nuestros hermanos galegos faziam-lhe uma homenagem grandiosa em forma de concerto em Vigo, anos oitenta. Memorável momento a que tive o privilégio de assistir.

Anónimo disse...

"O revolucionário, o lírico, o cantor" – vampiros, canção de embalar, cantar alentejano…

No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas p’la noite calada
Vêm em bandos com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada ….

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

Realmente emociona sempre…
Fui buscar o último disco, aquela gravação dos últimos concertos ( em Coimbra e Lisboa) para ouvir! Já há algum tempo que não o fazia!
Obrigada por esta lembrança...

Anónimo disse...

«Olha o sol que vai nascendo \ anda ver o mar \ os meninos vão correndo \ ver o sol chegar».

Era o Zeca da Beira. Exilado para que aprenda que os regimes fortes se respeitam. E aprendeu. Muito. Aprendeu, menino do mal trajar, que um dia novo lá vem / só quem souber cantar / virá também.
Sabia cantar. Veio. Cantou... e foi-se embora muito cedo, que nem sempre os boémios dormem até tarde...

Amenophis disse...

Uma pequena informação, que não passa disso, mas que é uma curiosidade, para quem não sabe.
José Afonso leccionou, penso que História, bem perto de Viseu, no antigo Colégio de Mangualde.

Rini Luyks disse...

Já conhecia a música do Zeca Afonso na Holanda.
Estava a viver em Portugal há um mês e meio quando ele faleceu. Fui ao funeral em Setúbal que fica na minha memória como um dos acontecimentos mais impressionantes que já vivi.

Rini Luyks, músico holandês residente em Portugal há 20 anos