Está na berra a questão de saber se, nas provas de aferição de Português, os erros ortográficos devem ou não "contar na classificação". Sobre a polémica,
- (mais uma vez) o sr. Aníbal Silva foi contundente e polémico: disse não se encontrar «em condições de dizer se contar ou não contar os erros de português» nas referidas provas «será pedagogicamente o mais correcto». Mais um campo onde o sr. Silva tem opinião forte;
- o sr. Director do GAVE esteve, há pouco, na Sic Notícias. Colocado pelo jornalista perante uma situação de avaliação hipotética
[e depois de sossegar os portugueses invocando razões de autoridade, no género de sosseguem, que o trabalho que está a ser feito é de qualidade],
teve opinião exemplar: tratando-se de uma situação hipotética extrema, não há interesse em analisá-la. Como se as situações hipotéticas, por serem possíveis e mesmo sendo "extremas", não interessassem... - o sr. Telmo Correia, no mesmo canal televisivo, resolveu a questão invocando um anátema que, nos tempos que correm, é pauzinho milagreiro: o eduquês. Disse ele que o problema é o eduquês... Julgo que vai sendo tempo de ir desmontando esse chavão universal, com que se explicam todos os males da educação;
- (defendendo o eduquês?) não vejo nenhum mal em que, depois de definir muito bem o que se pretende avaliar, se adoptem os instrumentos mais eficazes para fazer essa avaliação. Se se pretende avaliar a compreensão que o aluno tem de um texto, não vejo razão para o penalizar através de erros ortográficos ou outros mecanismos alheios ao que se pretende avaliar
[nesse sentido, vejo com bons olhos a sugestão de, nesta parte da prova, se utilizarem respostas de escolha múltipla].
Porque um aluno pode ser bom, por exemplo, a interpretar textos e menos bom, por exemplo, a escrevê-los. Que credibilidade pode ter uma avaliação de competências que penalize o aluno no primeiro campo de avaliação por parâmetros do segundo? ou vice-versa?
6 comentário(s). Ler/reagir:
Ai valha-me deus que eu já não entendo isto!
Coloquemos a situação de dois alunos.
O aluno Rodrigues dá 10 erros na 1ª parte e nenhum na segunda.
O aluno Gomes não dá nenhum na primeira e dá 10 na segunda.
O que é que distingue estes alunos do ponto de vista do domínio da ortografia?
Nada.
Apenas se pode concluir qu o menino Rodrigues deverá preencher a chave do totoloto ou do euromilhões do seu encarregado de educação.
Meu caro bife cbb ;-), agora sou eu quem não entende:
1. o menino Rodrigues, tal como o menino Gomes ;-), não pode dar erros ortográficos em questões de escolha múltipla, pela simples razão de que elas o não permitem. Os únicos erros, nesta parte, dirão respeito a interpretação do texto (se é isso que se pretende avaliar). Deste modo, a classificação nessa parte traduzirá a competência dos meninos na interpretação. De outro modo (isto é, se se descontassem os erros ortográficos), vendo a classificação obtida nessa parte, como era possível saber qual o nível de competência nesse domínio? Suponha-se que o menino Rodrigues interpretou muito bem o texto mas deu muitos erros ortográficos: nesse caso, a avaliação nessa parte poderá ser negativa, mesmo que o menino seja muito bom a interpretar textos. Será isto razoável?
2. Tanto um menino como o outro podem ser avaliados em competências "superiores" às que exige o preenchimento do euromilhões. Porque a prova as testará: porque, por exemplo, terão que criar texto (e aqui, sim, os erros ortográficos e a estruturação sintática terão importância, ainda que importância diferente. Digo eu). Também aqui, vendo a classificação obtida, poderá "ter-se uma ideia" do nível das competências relativas a ESTE domínio.
3. De outro modo (isto é, misturando tudo) ter-se-á apenas uma "ideia geral" do nível do aluno. Mas uma classificação global não informa sobre as diversas competências...
4. A ideia de que as questões de escolha múltipla exige as competências requeridas para preencher totoloto está muito longe de ser verdade. A menos que as questões estejam mal redigidas -- mas isso é outra questão.
A minha humilde opinião:
Quem comete erros ortográficos sistemáticos - e não aqueles causados pela distração ou por gralhas - não pode passar do 4º ano. Se estiver já num estádio mais avançado do percurso escolar, tem de reprovar até aprender a escrever. É simples.
João Pedro Delgado
1.Ainda estou para entender porque é que as questões de escolha múltipla avaliam melhor a compreensão que outras. É Bloom? É Scriven? É Stake? É Crohnbach? É Shadish? É Rossi? É Freeman? É Campbell? É Weiss? É Chelimsky?
A sério que podia "despejar" aqui todas as referências da minha tese de mestrado - que já tem alguns anitos, sem conseguir atinar com a resposta.
2. A intervenção do director do GAVE foi um desastre.
3. Procurei introduzir algum bom-senso na discussão, como pude.
4. Alguém me explica como é que um aluno pode dar muitos erros numa parte da prova e não noutra? Toma Red Bull no intervalo?
Desculpem qualquer coisinha...
Estou de acordo com o princípio de João Salgado, com algumas excepções:
George Washington era disléxico.
Andersen ditava os seus contos universais a um escriba.
E poderia dar aqui muitos mais exemplos de como as excepções confirmam a regra.
Obrigada. Boas escritas.
Sobre avaliar tudo em todas as perguntas, é assim:
Eu vou ao médico e ele diz-me:
- A senhora tem de cortar a perna...
- Porquê?!?
- Tem um furúnculo...
-Ah!!! 'Tá bem!
(Foge, Idalina!)
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