Para não esquecer...

GIULIANA SGRENA

Vi-a há um par de dias. Não mete medo a ninguém com aquele corpo franzino e ar tímido

[quase assustado].
Isso pensei eu, mas parece que, enquanto andou a fazer perguntas por Bagdade, várias pessoas se assustaram. Ela acha que as perguntas mais incómodas
[chatas? perigosas?]
foram as relacionadas com o uso de bombas de fósforo durante a invasão e durante os assaltos para eliminar resistentes
[quem encheu a boca com as armas de destruição massiva do Sadam, não podia aceitar que lhe enchessem os ouvidos com notícias sobre as suas bombas de fósforo].
Sgrena foi raptada e esteve em cativeiro durante um par de semanas
[outros jornalistas tiveram menos sorte. Morreram].
Nunca deixou de fazer perguntas. O governo italiano meteu-se no caso e conseguiu a sua libertação. Agentes italianos foram buscá-la a Bagdade. A caminho do aeroporto uma patrulha estado-unidense fez fogo sobre o carro. Calipari, o agente encarregado da segurança da jornalista protegeu-a com o seu corpo. Morreu. Ela e os outros ficaram feridos.

A versão oficial diz que a patrulha fez alto ao carro num posto de controle. O carro não se deteve. Pararam-no à força de 58 disparos.

Sgrena deu-nos outra versão: ninguém mandou parar o carro. Nem sequer havia um posto de controle. Só deram pela coisa quando chegaram as balas.

Pergunta ela
[sempre jornalista, sempre a perguntar]:
Se a ideia era deter o carro, por que é que foram feitos 57 disparos aos passageiros e só um ao carro? Não seria mais normal que todos fossem às rodas e ao motor?

Ontem, em Roma, foi adiado para Julho o julgamento do responsável: um porto-riquenho, soldado do exército estado-unidense. O acusado não se apresentará ao tribunal, porque os seus chefes acham que ele procedeu correctamente. Para os italianos isso não tem importância. O julgamento seguirá o seu curso.

escrito por José Alberto, Porto Rico

2 comentário(s). Ler/reagir:

Conde Nado disse...

Os EUA têm sempre um Jack Ruby à disposição.

Anónimo disse...

Bem observado, mas também mostra o bem preparado que está esse exército todo de mercenários feito.
Se um italiano matasse uma jornalista do Tio Sam é que eu queria ver como era.