O discurso político é a melhor fonte de exemplos para distinguir argumentação de retórica. Deixo 4 exemplos:
- Fernando Negrão instalou em Lisboa 10 tendas
[para registar críticas e sugestões dos lisboetas],
como um "acto simbólico" da "volta" que o candidato social-democrata quer dar ao funcionamento da Câmara. O candidato do PSD justifica a iniciativa com um argumento... fatal: trata-se de "aproximar a autarquia dos cidadãos". Truque velhinho em roupagem nova: os candidatos viajam pelas feiras, mas os eleitos nunca mais lá voltam; os candidatos dão beijos nas velhinhas-coitadinhas, mas os eleitos cortam-lhes as reformas e aumentam a comparticipação nos medicamentos... E o mesmo há-de acontecer com estas tendas[que tenda é provisória, não é?].
Dizia Fernando Negrão: os lisboetas devem ter "uma atitude pró-activa"[até parece que o homem anda a fazer publicidade a uma daquelas margarinas ou iogurtes proactive...].
- No "frente a frente" da Sic Notícias, Filipe Menezes [FM] defendeu hoje a não realização, em Portugal, do referendo ao novo tratado da União Europeia
[passado para a presidência portuguesa, talvez por ser apresentado como um tratado "simplex". Digo eu].
Com um argumento, no mínimo, curioso[e certamente... fatal]:
é previsível que a percentagem de votantes num hipotético referendo fosse muito baixa. Portanto, seria um referendo não vinculativo -- e andaríamos a perder tempo. Ora o autarca do PSD diz estar convencido de que os portugueses querem[lá vem o velho sofisma dos políticos]
é que a União Europeia "ande para a frente", sem empecilhos. Ou seja, os portugueses não querem o referendo.
Das duas, uma[ou das duas, duas]:
ou FM é burro ou acha que o telespectador é burro. - O ministro da Saúde esconde o relatório da comissão de entendidos que propõe, para a Saúde, as medidas que, contrariando a Constituição, afastam cada vez mais o Serviço Nacional de Saúde da gratuitidade. O argumento é... fatal: as medidas não serão postas em prática nos próximos 2 anos
[quer dizer, antes das próximas eleições].
Ou seja, temos a confirmação de que- o governo pê-èsse começa a preparar as próximas eleições;
- no caso de o pê-èsse ganhar as próximas eleições, vai continuar o regabofe da malhação no pessoal...
- Segundo contas do Infarmed, o tabaco custou-nos cerca de 434 milhões de euros em cuidados de saúde no ano de 2005. Segundo estudo realizado por investigadores da Universidade Católica Portuguesa e da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, os internamentos motivados pelo tabagismo custaram 126 milhões de euros, os medicamentos, consultas e meios complementares de diagnóstico, mais de 308 milhões.
Face a tais números, parece sem justificação que o governo economicista do pê-èsse não ataque tamanho malefício. Mas nestas contas faltam alguns números: quanto é que o tabaco rende em impostos; e quantos anos de reforma o Estado poupa, por mortes prematuras de indivíduos que viveriam mais uns anitos[a OMS prevê que, a continuarem as coisas como estão, em 2020 morrerão anualmente 10 milhões de pessoas]...
0 comentário(s). Ler/reagir:
Enviar um comentário