Para não esquecer...

DO CONTRA [10] o acesso dos professores à titularidade

A divisão, em 2 escalões, da carreira do pessoal docente do ensino não superior é sintomática da política de justiça e igualdade

[salvo seja!]
deste governo pê-èsse.

O 1º concurso a professor titular, a decorrer, é sintomático da desorientação
[e talvez outras "aõs", ou ".unhas", de que não tenho prova mas apenas desconfianças]
do actual ministério da educação
[salvo seja!].
  1. Anunciou a ministra que agora é que os professores iam ser avaliados a sério e não por automatismos. Mas o professor concorrente ganha pontos
    [ou perde-os]
    automaticamente: foi director de turma? não interessa se foi bom ou mau, tem x pontos. "Deu" aulas, não interessa se bem se mal,? mais x pontos...
    Por este mecanismo automático, quem nos últimos anos só "deu" aulas
    [e há boas razões para tal ter acontecido, com muitas vantagens para o ensino]
    não tem hipótese de ser bom
    [salvo seja!... queria dizer, titular].
    Conheço vários professores há muitos anos reconhecidamente dedicados à profissão que, por estas razões
    [e porque o ministério não teve em conta toda a carreira do professor mas apenas os últimos anos],
    ficam de fora da titularidade.

  2. Os pontos que o professor (não) obtém, obtém-nos (ou perde-os) em função de critérios actualmente definidos para "avaliar" uma prática passada. É como se um árbitro de futebol no final do jogo decidisse que a equipa vencedora seria a que teve a bola na sua posse durante mais tempo
    [decisão acertada para o caso de ao árbitro interessar determinado resultado. No caso deste governo pê-èsse, o árbitro ainda não disse o que acontecerá à equipa que perder -- quero dizer, aos professores do 10º escalão que não subirem a titular. Há-de dizer, certamente, mas sabe-se já, pela prática anterior, que coisa boa, a médio prazo, não há-de ser].
  3. As regras
    [salvo seja!...]
    do concurso já foram alteradas bué de vezes depois de o processo ter sido desencadeado. Dá pontos ter leccionado no país tal de língua portuguesa? nalguns casos, depois de não dar já passou a dar
    [haveria alguma filha de ministro que precisasse de tal mudança?].
    Dá pontos ter sido director de várias turmas no mesmo ano? já contou só uma, mas agora contam várias. Dá pontos ter sido coordenador de biblioteca? já deu, só na condição de a biblioteca estar integrada na rede das bibliotecas escolares -- agora já dá mesmo sem essa condição
    [e não vale a pena continuar a enumeração das alterações; até porque não se sabe que razões terão efectivamente motivado as mesmas].
  4. O concurso decorre durante uma semana. Via internet. Tinham-me dito que a coisa não era fácil, que o serviço estava indisponível com alguma facilidade. Tentei há pouco a minha sorte: o serviço disse-me que estava indisponível; que tentasse uns minutos mais tarde. Tentei: o serviço respondeu então que o meu cliente de acesso à internet não é suportado. Como se seguiam uma síntese dos principais "browsers", concluí que se referia a qualquer incompatibilidade do meu. Pensei que teria que usar o Internet Explorer, que é apresentado como sendo o "usado por mais de 90% dos internautas" [não seria a primeira vez que um serviço público faria tal exigência incompreensível, a não ser justificada pelo encontro de há tempos entre o sr. José de Sousa e Bill Gates]. Mas não: lá estava indicado a seguir o Firefox, que eu uso e considero muito superior ao do Bill Gates. Pergunto-me pela razão da recusa e ponho a hipótese de o servidor ter detectado que estava a concorrer do mesmo computador que "produz" o Ai Jesus!. Pura teoria da conspiração? Claro
    [não acredito que, fora da DREN, haja cães tão zelosos do dono como na DREN]!
  5. Um dia destes, hei-de escrever mais qualquer coisinha sobre o novo tipo de "avaliação" que o governo pê-èsse impôs aos professores. Porque penso que, ao contrário do modelo de avaliação anterior, este nem é racionalmente defensável, nem é justo, nem é motivador.

    E que fique aqui bem claro: a menos que o ministério altere significativamente as regras até segunda-feira às 24 horas
    [quando o concurso termina; ou que as altere depois de o concurso terminar],
    eu serei professor titular. Não estou, portanto, a defender a minha dama, mas apenas uma avaliação que fosse efectivamente rigorosa e justa. Uma avaliação pela qual continuarei a lutar
    [o que equivale a lutar contra este ministério pê-èsse].
escrito por ai.valhamedeus

6 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

«11-Jun-2007
Cecilia honorio
O deserto do concurso para professor titular
O concurso para professor titular (não é a caça ao título é a condição de progressão numa carreira hiper-congelada) é mais um retrato sinistro deste ministério.
Primeiro, nem é bem um concurso, é uma coisa que se faz escola a escola, sem critérios controláveis, sem que se perceba, por exemplo, qual a razão - e quando a ministra falava de 1/3 de vagas para as candidaturas de 8.º e 9.º escalão - para a escola A ter 1/2 de vagas para o departamento de matemática e ciências experimentais e 1/4 para o de ciências sociais e humanas. Transparência zero.

Neste pseudo concurso, onde contam apenas os últimos 7 anos (quer se tenha vinte ou trinta de serviço), a classificação profissional não conta e bons e maus resultados com os alunos valem o mesmo. O que conta mesmo é ter cargos. Mas nem todos. Ser presidente de um conselho executivo dá 9 pontos por ano, coordenador de departamento (cargo que pode ser gerido com uma a duas reuniões por período) vale 6, mas a direcção de uma escola de 1.º ciclo dá 4 e um director de turma vale 2, e até era para não valer nada.
Este concurso, que vai esmagar milhares de professores de forma injusta e humilhante, parece apenas ser filho da loucura ou da arbitrariedade absoluta. Exemplifica-se: A, com mais de trinta anos de serviço, com 18 de classificação profissional, e que não tenha tido cargos nos últimos 7 anos (podendo mesmo ter dado as melhores aulas do planeta e com os melhores resultados e ter desempenhado no passado todos os cargos e mais alguns) poderá não ter pontos para ser titular, ao contrário de B que, tendo média de 10, tenha sido presidente de um conselho executivo nos últimos 7 anos, ou tenha dado aulas e, com redução da componente lectiva, assumido a coordenação dos professores da sua disciplina...

Não vale a pena multiplicar exemplos sórdidos porque eles serão, infelizmente, vividos na pele, e menos ainda achar que o problema é @ professor A ou B (não quer a ministra outra coisa). E parece arbitrariedade absoluta, mas não é.

Sabendo-se que a ministra encomendou um estudo para reestruturar a carreira dos professores que teve a carreira militar como referência, e já nada estranhando, não faltou quem pensasse que os 7 anos de apreciação curricular tinham uma qualquer carga simbólica. Mas o Decreto-Lei 200/2007, que regula este concurso, está para além da pura alucinação ou da simples fantasia. Tem um objectivo político claro e não é uma pura criação deste ministério: destina-se a premiar os poderes instalados com o modelo de gestão dado à luz pelo 115-A/98. É só por isso que são pesados 7 anos e não mais.

Poderá dizer-se: quem é que ia adivinhar? Quem ia saber que se não se fizesse ao cargo a partir de 98 podia ficar a chuchar no dedo? Quem é que ia prever que só os cargos assumidos desde aquela data seriam a fonte do prémio e do castigo na progressão na carreira? Quem é que ia adivinhar que uma ministra da educação, saída das trevas socialistas, ia mesmo levar até ao fim uma cadeia hierárquica de burocratas?

Sem generalizações à laia deste ministério (e com o respeito devido a muita gente séria, presidentes de conselhos executivos e detentores de cargos de gestão intermédia, que por esse país fora dá o que pode e o que não pode) a verdade dói: o PS sabia que um dia ia ser assim e há poderes instalados nas escolas que, aqui e ali, também o sabiam e foram antecipando as suas cadeias internas de poder. Agora, só falta mesmo à ministra dar a última cacetada nos últimos resquícios da gestão democrática das escolas.

Os sindicatos interpõem providência cautelar ao concurso e comprometem-se a ir até ao fim, o PSD pede a apreciação parlamentar do diploma (o BE não o pode fazer por não ter número suficiente de deputados), e a unanimidade possível é a da brutalidade da arbitrariedade, esperando-se que, ao menos desta vez, deputados e deputadas do PS não voltem a deixar declarações de um voto amordaçado.

Hoje, são quase todas as razões que exigem às e aos professores o melhor do seu direito à indignação, o melhor da sua capacidade de luta e da sua força para impedir a fragmentação da sua identidade e a recolocar no centro do futuro, que é esse o seu lugar.

Cecília Honório »
http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=3084&Itemid=46

Anónimo disse...

boa! boa! texto bem esgalhado, o da Cecília!

Anónimo disse...

Merece destaque np placard da escola, caro Toino!

Anónimo disse...

Ponham no placar este tambem ;-)
«Este concurso é uma falácia e devia ser impugnado pelo Presidente da Republica
Vejam este caso (um entre milhares)

No Publico
«Direito à indignação
09.06.2007
Como se já não bastassem as afrontas sucessivas de que, por parte da tutela, os professores têm sido vítimas, surge agora, dentro da própria classe (que já sabíamos heterogénea, desde professores que apenas têm como habilitação, de facto, o ensino básico até aos doutorados), a divisão entre "novos"/competentes e "velhos"/incompetentes, como se de categorias estanques se tratassem.
Mas o que se segue poderá ilustrar como é uma falácia a passagem automática a professor titular dos "professores do 10.º escalão (os mais velhos)" (sic).
Sou professora do 10.º escalão: início de carreira em 1972-1973 com 23 anos de idade, após uma licenciatura de cinco anos e um curso de Ciências Pedagógicas, tendo realizado, posteriormente, o Estágio Clássico para o Ensino Secundário, sem o qual não passaria de professor eventual/provisório a professor efectivo/PQND (professor do quadro de nomeação definitiva). Durante os quase 35 anos de carreira desempenhei, sempre e até este momento, os seguintes cargos: directora do 2.º ciclo liceal - 1 ano; estágio clássico - 1 ano; directora de turma - 14 anos; vogal do conselho directivo - 2 anos; presidente do conselho directivo/executivo - 3 anos; delegada de grupo - 8 anos; coordenadora de directores de turma - 2 anos; directora de biblioteca - 1 ano; directora de instalações audiovisuais - 1 ano; directora de mediateca - 1 ano; orientadora de estágio pedagógico - 5 anos; criação e organização do gabinete do aluno - 2 anos; criação do primeiro Clube Intercultura (génese dos actuais Clubes Europeus) - 2; coordenação e realização de intercâmbios escolares - 2 anos; orientação de cursos de formação contínua para professores - dezenas; orientação de cursos para pais e encarregados de educação (Portugal Continental, Regiões Autónomas e PALOP) - dezenas; orientação de cursos de metodologia de estudo para alunos - dezenas; leccionação de cursos de língua portuguesa e técnicas de comunicação oral e escrita (PALOP) - 3 anos; visitas de estudo (nunca "passeios") - dezenas; orientação, participação e execução de projectos educativos, planos anuais de actividades e projectos curriculares de turma - dezenas; licença sabática - 1 ano.
Com este currículo não passo à categoria de professora titular porque não atinjo os 95 pontos necessários: desempenhei uns cargos quando era "nova"/competente e que, por serem anteriores a 1999-2000, não contam; desempenhei outros cargos, sempre por "participação voluntária", agora que sou "velha"/incompetente (os tais que só os novos sabem fazer e estão assinalados, no quadro, em itálico), que também não contam; acresce que, por ter apresentado um projecto para licença sabática, em 2002-2003, que, por azar, foi aprovado, sou penalizada em 8 pontos; ainda por cima, em 35 anos de serviço apenas contabilizei 1,22 por cento de faltas.
Posto isto, conclui-se, veja-se lá, que os professores do 10.º escalão nunca estudaram, nunca fizeram estágio, nunca trabalharam, nunca leccionaram, nunca realizaram projectos, nunca exerceram cargos, nem nunca foram competentes...
Foi mesmo por isso que só conseguiram formar professores como o autor do artigo em causa.
Natália Izaura de Andrade Rodrigues
Coimbra »

Anónimo disse...

Têm toda a razão os colegas. Mas também os professores do 10º escalão que tiveram a "sorte" de ter pontos para aceder ao dito "título" por critérios que lhes foram impostos, também esses repito, e não são poucos, vêem grande parte do seu percurso e da sua dedicação serem postos de lado. Todos temos razão de queixa. Até os ditos"felizardos". E já agora quais foram os números da greve? Eu tenho pontos e fiz greve na mesma. Mesmo sabendo que só iria perder dinheiro (será?). Quero que seja tudo contado e não apenas os últimos 7 anos.
Um dia a razão há-de triunfar, se este país se curar da cegueira.
Gabriela Correia

Ai meu Deus disse...

"...se este país se curar da cegueira"?! Ó Gabriela, não há mal que sempre dure. Digo eu...