Para não esquecer...

QUE PAÍS?

Há muito que não lia O Público! Quiçá por mor de muito trabalho; talvez como reacção negativa a uma “Fénix Renascida”.

Todavia, as cartas endereçadas ao Director e intituladas “Até que A Morte nos Separe” e “Intimidação nas Escolas”, e mais recentemente “Os Outros Titulares”, bem como o artigo de Manuel de Carvalho, mereceram a minha atenção e um forte aplauso. São, todos eles, bem elucidativos do actual momento, tanto político como social (um decorre do outro, não é?): da desconfiança, da mordaça, da bufaria, da desumanização, e de muitos mais desmandos que perpassam e atravessam a sociedade portuguesa como furacão implacável, ao invés de brisa benfazeja, tão apaziguadora quanto aglutinadora de um país. Que ansiava por tal, manifestando-o no voto sem rebuço ou margem para dúvidas.

O que fizerem os responsáveis desse “cheque em branco”, o futuro o dirá, já que o presente não passa de areias movediças. Pelo menos à superfície.

Devemos, porém, recear as profundezas, os interiores, os quartos escuros, os recantos escondidos, os baixios na maré-alta. Para não sermos surpreendidos. Para não dizermos candidamente: “ Não sabia que era tão grave!”

Atentem só neste final do artigo de Maria do Carmo Vieira no JL de 4 de Julho intitulado “O abandono da gramática” onde ela critica a TLEBS realçando a obrigatoriedade de os alunos do Secundário se familiarizarem com conceitos de hiponímia – hiperonímia e meronímia – holonímia. Estarrecidos? Eu também. Mas é muito simples: cão é um hipónimo de animal; assim animal é hiperónimo de cão/ nariz é merónimo de rosto, sendo rosto holónimo de nariz. Confusos? Também eu. Nem o computador sabe ainda o que isto significa, e colocou em todos estes palavrões um grande traço vermelho. E a mim já me está a chegar a mostarda ao “merónimo”.

Mas esperem pelo final, final. Vai-vos chegar também a dita ao merónimo.

Diz a autora que recebeu um mail de uma colega ligada ao grupo dos organizadores dos novos programas de Português, no Ministério da Educação, cujo texto ela transcreveu e que reza assim: “Então agora querem obrigá-la a dar aulas a sério?!!! Lá se vai o entretenimento. Que pena!!! Lá se vão as aulas divertidas… uma musiquinha aqui, um quadrozinho acolá! Que vida regalada!!! E tudo isso por água abaixo!... (…) Acredite em mim!!! Continue a divertir-se!!!!!!!!!!!!! Pelo menos enquanto não houver avaliação do desempenho!” (a pontuação é assim mesmo. Presumo que no mail também).

Acto contínuo, continua a relatar a professora, “o pedido de avaliação chegou via fax do Ministério da Educação para a Escola onde lecciono, e à laia de ultimato, exigindo no prazo de 48 horas todas as classificações por mim atribuídas aos alunos, ou seja, ao longo dos 23 anos que lecciono na Escola Secundária Marquês de Pombal. Por uma questão prática, contentaram-se com os últimos 5 anos. A que conclusão terão chegado? Desconheço” (fim de citação)

E então? Não vos chegou, no mínimo, a mostarda ao merónimo?

escrito por Gabriela Correia

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