Para não esquecer...

O COMÉRCIO TRADICIONAL

COMPRAR NO COMÉRCIO TRADICIONAL PARA NÃO DEIXAR MORRER A(S) CIDADE(S)

Curiosamente, Fernando Ruas acaba de se desculpar com “as leis de mercado e de estabelecimento defendidas pela União Europeia”, pela proliferação de grandes superfícies no concelho de Viseu. Revelando ter mais de 10 pedidos para abertura de grandes distribuidores, o presidente da CMV, apesar de achar que “o panorama é comum ao resto do país”

(na verdade, Viseu está em vias de se tornar a cidade portuguesa com a maior densidade comercial, segundo dados da Associação Comercial do Distrito),
pela primeira vez questiona-se se haverá mercado para tantos empreendimentos
(ler Diário de Viseu).
Mas, Ruas não pode, agora, atirar todas as responsabilidades para cima da Direcção Regional de Economia
(como parece ter feito, de acordo com a notícia),
porque a actual Lei nº 12/2004, de 30 de Março, faz depender as autorizações de instalação do parecer prévio de uma comissão presidida pelo presidente da Câmara ou um seu representante.

Fernando Ruas não só ficará nos anais de Viseu como o “exterminador implacável do pequeno comércio”, como também deverá ser responsabilizado pela expulsão dos moradores do centro da cidade
(e não só do centro histórico)
para a periferia, pela ausência de uma estratégia urbanística e de reabilitação atempada do casco histórico, pela sujeição aos interesses imobiliários
(geradores de taxas e impostos municipais),
por uma política errada de mobilidade, que retirou o direito dos moradores e dos comerciantes ao estacionamento. A Rua Formosa, a Rua do Comércio e metade da Rua Direita já só têm dois ou três moradores. Sem gente não pode haver comércio. Naquelas artérias só há vida no rés-do-chão das lojas. Mas daqui a poucos anos, como já acontece hoje nas cidades do Canadá, como Toronto, inundadas de grandes superfícies, serão as lojas a ficar entaipadas.

Como disse José António Silva, presidente da Confederação do Comércio Português, numa reunião com associados da Associação Comercial do Distrito de Viseu, na passada segunda feira, para discutir a Crise no Comércio e o seu previsível agravamento com o novo regime de licenciamento comercial e de liberalização de horários, a área comercial duplicou em relação a 2005, mas o desemprego aumentou”. Portugal, que tem um poder de compra 32% abaixo da média europeia (68%), já tem um horário de abertura ao consumidor (84 horas semanais) superior à média europeia (72 horas). Só em três países europeus o comércio abre ao domingo e na Alemanha encerra até mesmo ao sábado à tarde. Mas basta irmos até Espanha. Castelo Branco tem mais grandes superfícies do que Cáceres, que tem quatro ou cinco vezes mais população.

Um estudo apresentado pelo Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços, conclui que o trabalho precário nos centros comerciais da área metropolitana do Porto atinge 43% dos trabalhadores, alguns com recibos verdes e contratos a prazo há uma década, e 26,5% a descansar apenas um dia por semana (1,2% nem sequer isso), enquanto 9,5% trabalham mais do que as 40 horas semanais estipuladas por lei, havendo casos de não pagamento de horas extraordinárias. Nada que me surpreenda quando já tive oportunidade de denunciar, há uns anos atrás, que 19 empregadas do Modelo de Viseu tiveram de recorrer a um abaixo assinado para exigir o pagamento de horas extraordinárias.

A grande distribuição criou 4 mil empregos, em 2006, mas provocou a perda de 24 mil. Desde 2005 que o saldo negativo é de 54 mil postos de trabalho extintos.

Esta é também uma questão de cidadania. Comprar no comércio tradicional é não só dar vida às cidades, como também contribuir para uma economia sustentável.

escrito por Carlos Vieira

3 comentário(s). Ler/reagir:

Anónimo disse...

"A grande distribuição criou 4 mil empregos, em 2006, mas provocou a perda de 24 mil. Desde 2005 que o saldo negativo é de 54 mil postos de trabalho extintos."
Será que o senhor socrates já contabilizou estes novos 4 mil empregos?
Na dúvida que alguém lhe mande mais estes para ver se chega aos 150 mil novos empregos,
E, por favor, que ninguém lhe fale nos 500 mil desempregados não vá o senhor ficar zangado ou melindrado

Anónimo disse...

Um texto bem esgalhado sobre o extermínio implacável do pequeno comércio. E onde se prova que o p"s" não está sozinho no governo...
Há que não nos espantarmos, portanto, com a manutenção da (ainda) elevada percentagem de popularidade socratiana.

Quanto ao comércio tradicional, não vejo que possa ser a militância dos consumidores não-grandes superfícies a salvá-lo. Ou será?

Anónimo disse...

só agora vi isto mas não posso deixar de dar o meu parecer, até porque há dias o Sr Fernando Ruas parece que disse que tencionava pedir dinheiro ao governo para alimentar os pobres da cidade de Viseu. Por tal facto, e sabendo eu que o comercio dos shoppings pouco compram á indústria nacional, e muito vendem de artigos confeccionados nos países de mão de obra barata, logo será fácil verificar que ele Sr. Fernando Ruas, é o principal responsavel pelo desemprego dos que passam fome, portanto que pague do bolso dele essa alimentação, porque se eles não têm emprego foi por ele ter aprovado tantos centros comerciais. E, se ele aprovou tantos centros comerciais, não prestou um grande serviço aos seus cidadãos que hoje tem muitos sítios onde ver montras mas não tem dinheiro para comprar nada, e se a alimentação dos necessitados for paga com o dinheiro dele fica feita justiça pois assim ele devolve ao povo o dinheiro que ganhou sem merecer por ter dado tais autorizações. Agora, com o dinheiro dos meus impostos não, até porque deixei de me fornecer de artigo para as minhas lojas de comércio tradicional, nas indústrias e armazéns cujos municipios aprovem e detenham na sua area centros comerciais. A isto é que se chama justiça. Façam igual e as empresas se querem vender têm que sair desses Municípios e assim talvez se deixe de aprovar esses centros comerciais. Façam como eu e divulguem.